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quarta-feira, 27 de maio de 2009

CARTA DE CAETANO VELOSO EM DEFESA DAS CALÇADAS DE PEDRA PORTUGUESA

Enquanto a maioria tenta buscar qualidade de vida, coisa rara nas horrendas cidades cinzentas, onde os arranha-céus e o asfalto dominam a paisagem, outros menosprezam seu maior patrimônio. As pequenas cidades trazem em si o que há de mais "caro", sublime, saboroso na vida humana: o relacionamento, a tranquilidade, o bem servir, a receptividade e o calor humano. Valorizemos, pois, nossas peculiaridades.

Não é de asfalto que se faz canção, muito menos alegra a multidão!

Leia a carta de Caetano Veloso:

Publicação de 15 de agosto de 2008, no jornal "A Tarde"

CALÇADÃO DA BARRA

"Cheguei da Europa e soube, aqui, do crime que o prefeito de Salvador está cometendo no Porto da Barra. Não posso ficar calado. É uma indecência manter as pessoas desinformadas a ponto de entrarem na guerra suicida à calçada portuguesa. O calçamento português é marca importante da nossa vida física e espiritual. Os incômodos que porventura venham de sua má conservação não são motivo para destruí-lo. Em São Luís (atualmente a cidade mais bonita do Brasil), as antigas calçadas portuguesas foram restauradas com o esmero técnico adequado e não provocam trepidação em carrinhos de bebê nem engolem saltos de madames. E são vastas e extensas áreas da cidade que as ostentam. As praças de Lisboa apresentam a mesma firmeza e a mesma elegância. Por que há tantos baianos votando a favor desse descalabro? Será que voltamos ao mau gosto vulgar que dominava antes de Jaime Lerner recuperar o Largo da Ordem em Curitiba? Regredimos para visão grosseira que teria deixado o Pelourinho, em Salvador, e o Largo da Lapa, no Rio, virarem pó e serem substituídos pelo caos dos restos da arquitetura moderna que enfeiam o Brasil? São restos culturais de baixa qualidade que se oferece aos grupos emergentes da sociedade, em nome da democracia. Não creio que seja um caso para votações inspiradas nesse tipo degradado de democracia. É caso para ouvirem-se os especialistas, respeitarem-se os locais históricos e míticos, esboçar-se uma reestruturação inteligente da cidade. Se isso não agrada de imediato a uma (suposta) maioria desavisada, não importa. O essencial está num texto escrito por Ordep Serra: um texto excelente sob todos os pontos de vista. Então, um lugar como o Porto da Barra pode ser violado assim? Não. Protesto veementemente. Não se pode adotar piso de concreto e granito polido na curva do Porto e tampouco a retirada das árvores. O que é que há com Salvador que o prefeito começou a construção de uma favela nas areias da orla e esse esboço continua lá, enquanto uma horda de desinformados apóia a destruição do Porto da Barra?"

Caetano Veloso

Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3097515-EI6578,00.html , acesso em 21/05/2009.


O TEMPO PASSOU...


O calçamento foi alterado, veja o que diz o leitor do Segundo Caderno do jornal "O Globo, de 21/05/2009":


“Aqui na Bahia tiraram as pedrinhas portuguesas do Farol e do Porto, puseram um cimento horroroso, sem a mínima alegria, arrancaram também algumas árvores ente a barra da baía e o Forte na calada da noite (disseram que estavam velhas, nem árvores podem envelhecer em paz nesse país), deixaram um concreto fuleiro que a última chuva já esburacou em alguns pontos, um troço sem poesia, sem a pátina do tempo, completamente sem charme e cidade nenhuma sobrevive sem charme, sem referências antigas, sem tataranetos pisarem o mesmo chão que tataravôs pisaram; sem referências cidades não são cidades, são depósitos de gente, e gente que sem referências perde o respeito pelo bem público e junto perde o respeito pelo conterrâneo; sem a história e o vivenciar local dela é tudo uma imensa invasão, não uma cidade. Aqui nessa terra um Coliseu já teria virado um estacionamento ou um centro de compras, com passeio de cimento nojentinho, passeio de cimento é como flor de plástico, não tem estrago mas também não tem perfume.” (Matilda Penna)


(O Globo, Segundo Caderno, 21.5.2009)


Leia mais aqui, blog da Cora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Angeline,
Veja o exemplo de Salvador. Uma cidade que sobrevive do turismo cultural, com tombamentos nas tres esferas do governo, passando por um crime como este, conforme noticiou o Globo de 21/05 e agora Caetano Veloso.
Ninguém pode valorizar aquilo que não conhece. Enquanto as pessoas continuarem desinformadas e não reconhecerem o patrimônio cultural de suas cidades, de seus estados e de seu país como sendo de todos nós, vamos encontrar sempre situações como esta de Salvador. Retiraram uma pavimentação de altíssima qualidade, como é o caso da pedra portuguesa e trocaram por um piso de cimento, que já apresenta problemas em alguns trechos. Da mesma forma ocorre com o calçamento, que é um material nobre, de fácil manutenção, mais barato, mas que é constantemente substituído por asfalto porque oferece, dentre outras coisas, resultado imediato e de impacto (mesmo que de mau gosto) desejado por políticos que não reconhecem nas calçadas, nas ruas e nas construções a história de suas cidades.
O fato de serem tombados (calçamentos e calçadas) não significa que tenham que ser mal conservados, esburacados, sem a mínima manutenção. E se não fossem tombados e são houvesse o asfalto para substituí-los? Voltaríamos a andar por estradas de terra?
Já imaginou Copacabana sem o seu calçadão de pedras portuguesas, que dentre outras coisas inspira e gera renda em artesanatos confeccionados no mundo inteiro, filmes, indumentárias, gastronomia etc, etc, etc?
Beijos

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