A pequena cidade de São Félix (a 110 km de Salvador) é o mais novo bem protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), considerando seu alto valor paisagístico. Com um pouco mais de 15 mil habitantes, às margens do Rio Paraguaçu, faz parte da paisagem da cidade histórica de Cachoeira, patrimônio nacional desde 1971. A decisão foi tomada pelos 22 membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniram na quarta-feira (4), no Rio de Janeiro, e aprovaram, por unanimidade e sem ressalvas a proposta de tombamento do conjunto urbanístico e paisagístico da cidade apresentada pela superintendência do Iphan no Estado.
Entre os membros do Conselho Consultivo estava o professor baiano Eugênio de Ávila Lins, que foi o relator do processo. O parecer, elaborado pelo Departamento de Patrimônio Material (Depam/Iphan), destacou os aspectos urbanos do município, além de uma variedade de programas ligados aos usos residenciais, religiosos e administrativos, entre outros.
Com o tombamento, São Félix será alvo de grandes investimentos em seu patrimônio, além de preservar a memória de toda a região, garantindo o acesso e o envolvimento da sociedade com seu patrimônio histórico e a proteção dos elementos e características do sítio urbano que testemunham o processo de ocupação do Recôncavo baiano.
Para o superintendente do Iphan, Carlos Amorim, seu tombamento significa, também, preservar a memória de toda a região. “Esse trabalho, na verdade, é uma reparação a São Félix. Cachoeira recebeu mais de R$ 50 milhões em investimentos, valorizou seu patrimônio, alavancou o vetor econômico e incentivou a instalação da Universidade do Recôncavo da Bahia (Ufrb). Com o tombamento, São Félix receberá investimentos”, garantiu. Ainda segundo Amorim, com o tombamento prevalece a proteção contra adulterações no conjunto paisagístico e urbanístico da cidade sem a aprovação do Iphan.
Boa nova – Mesmo sendo uma reivindicação antiga, a notícia do tombamento de São Félix foi uma surpresa para muitas pessoas da cidade. “Não sabíamos que seria agora”, disse Beatriz Conceição, presidente do Conselho Municipal de Cultura. “Espero que também haja políticas de preservação para os imóveis particulares, pois a maioria dos proprietários não tem recursos e deixa o patrimônio se perder”, aponta.
Beatriz Conceição destaca que há imóveis de valor histórico que estão degradados, como a casa onde Castro Alves morou e nasceu a irmã dele, na Praça Inácio Tosta, e o sobrado onde morou Antenor Tosta, na Praça Rui Barbosa. Elba Matos, secretária de Educação, Cultura e Esportes de São Félix, destacou a importância do tombamento para a população. Para ela, a cidade já perdeu grande parte do seu patrimônio.
A proposta para o tombamento teve como base o traçado urbano que permanece original, incluindo o leito da ferrovia até a antiga estação ferroviária, a ponte Dom Pedro II e a orla do Rio Paraguaçu. “São Félix, junto com Cachoeira, preserva características do período áureo do Recôncavo baiano. O conjunto das duas cidades tem uma ligação desde a criação delas”, ressaltou Mateus Morbeck, do Iphan.
Economia - São Félix se estabeleceu no século XVI em função da expansão do porto de Cachoeira, como o ponto de partida da Estrada das Minas, importante rota comercial que seguia para Rio de Contas, na Bahia, e para os estados de Minas Gerais e Goiás. A cidade é cortada pela linha do trem, que funciona desde 1876 e se tornou marco histórico de modernidade. Já foi chamada de Cidade Industrial, por ter sido a maior exportadora de charutos da República.
Em função desse avanço, a inauguração da antiga Central da Bahia e da Estrada de Ferro deu-se em 1881. Foi no século XIX que a cidade atingiu o auge do desenvolvimento econômico a partir da produção de fumo. São Félix recebeu as fábricas de charutos Suerdieck, Dannemann, Costa Ferreira & Pena, Stender & Cia, Pedro Barreto, Cia A Juventude e Alberto Waldheis. O cultivo do dendê e um forte comércio de estivas, secos e molhados também são fortes produtos na economia.
A cidade é conhecida por ter se destacado durante as lutas e mobilização social para a Independência da Bahia. A arquitetura da cidade segue o estilo colonial, com prédios datados dos séculos XVII, XVIII e XIX. Entre esses se destacam as igrejas Deus Menino e Senhor São Félix, o Mercado Municipal, a Estação Ferroviária, a Prefeitura Municipal, a Casa da Cultura e Centro Cultural Dannemann.
Fonte original da notícia: "A Tarde"
Divulgado no Portal da ONG Defender
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