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sábado, 23 de maio de 2009

RUDÁ RICCI COMENTA A SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Sucessão Presidencial: a caixinha de surpresas

Por RUDÁ RICCI
Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, do Fórum Brasil de Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa.
SITE: www.cultiva.org.br . Blog: rudaricci.blogspot.com


Talvez por conta das inúmeras analogias do Presidente Lula, a política tupiniquim se parece cada vez mais com o futebol nacional. Nos últimos dias, tomou a forma da caixinha de surpresas, o lugar-comum mais famoso do mais popular esporte brasileiro. Os ingredientes são tão interessantes e inesperados quanto a Copa do Brasil. Vamos à escalação. Até o anúncio do adoecimento de Dilma Rousseff, tínhamos apenas dois titulares garantidos: a própria ministra e o candidato tucano (José Serra em nítida vantagem). Daí por diante, os titulares balançaram e a escalação virou futurologia diária. Hoje, a escalação tem as seguintes possibilidades:


Dilma Rousseff: gera dúvida, mas não muito acentuada e certa. As pesquisas recém entregues às mãos dos cartolas petistas e tucanos indicam que já teria superado a marca de 20% da preferência do eleitorado e já é identificada por 50% dos pesquisados como “candidata do Lula”. Nos bastidores, os cartolas continuam apreensivos, pensando que em determinado momento poderá ocorrer uma imensa dúvida sobre a capacidade física de Dilma conseguir administrar este imenso Portugal. Lula, o técnico, já se antecipou e proibiu a possibilidade do PT estudar outro candidato petista à sua sucessão. Seria uma mera bravata do técnico para apimentar mais o jogo? Pelo sim ou pelo não, outros cartolas petistas já citam Patrus Ananias e Jacques Wagner como jogadores que nem apareciam na lista de reservas.

José Serra: era o outro escalado como titular do jogo. Tinha diminuído as possibilidades de seu adversário imediato, o governador mineiro. Em outubro, deu uma surra e daí por diante foi avançando. Trouxe o jogador que estava pendurado (e que poderia se unir ao seu adversário imediato) até então, Geraldo Alckmin, para seu staff e fechou negócio com o treinador, vendendo a Nossa Caixa para o Banco do Brasil. Em janeiro deste ano, anunciou inovações, como a criação de 14 sub-governadorias no interior paulista e um pacote de apoios à indústria paulista. E aí, estacionou, embora continue liderando as pesquisas de opinião para a sucessão.

Aécio Neves: estava no banco de reservas, disputando a posição com José Serra. Com a evidente derrota eleitoral nas eleições municipais de outubro passado, garantiu a vaga para ser candidato a Senador. Mas continuou tentando ser titular do jogo principal. Mesmo porque, teria pouco a perder, já que a vaga para o Senado já estava garantida. Seus lances começaram meio sem rumo, mas de janeiro a maio foi se acertando. O primeiro lance foi pressionar pelas prévias tucanas. Jogou areia nos olhos de Serra, que ficou com o desconforto de ter que negar o debate com seus correligionários. Depois, divulgou o assédio do PMDB, mas reafirmou seu papel de soldado do partido. Finalmente, nos últimos dias, assumiu o discurso de “ponte” entre tucanos e lulistas. Nos bastidores, seus apoiadores emitiram vários balões de ensaio: acordo com Serra para construção de chapa pura, apoio à tese do terceiro mandato de Lula e novo assédio do PMDB. Quem ganha com tais boatos? O paulista, tenho certeza, não ganha.

PMDB: o “europeu” que todos querem contratar, mas que precisam aguardar a “janela” de contratações a partir do fim da temporada do outro continente. O PMDB negociava fazer dobradinha com Dilma Rousseff. Mas, se esta titular perde seu posto seguro, parte do PMDB percebe que pode aumentar seu cacife ou dote. E, a partir daí, colocou seus vários “empresários” em campo, procurando tumultuar levemente a escalação. Fazem novos convites para Aécio Neves se transferir para o PMDB, mas também lançam a proposta de emenda constitucional para convocar, ainda em setembro deste ano, uma consulta nacional sobre a possibilidade do terceiro mandato de Lula. Bom amigo ou amigo da onça?

Bloquinho: daí vem os jogadores juniores que estão sendo testados nos últimos anos, mas que ainda não conseguiram se garantir. Quando têm chance, tentam vingar de qualquer maneira, demonstrando muito vigor, mas ainda não convencendo. O líder deste bloquinho (PDT, PCdoB e PSB) é Ciro Gomes. Com o adoecimento de Dilma Rousseff, seus líderes se alvoroçaram, mas logo depois ficaram reticentes. Afinal, apostar no sofrimento do outro não é muito auspicioso.

Lulismo: o staff do técnico é semi-clandestino, algo que se aproxima do papel dos olheiros do futebol. Lançou Dilma Rousseff no ano passado com a clara intenção de impedir que outros jogadores do seu time brigassem pela posição. Mas, aos poucos, percebeu que este poderia ser um balão de ensaio plausível. Principalmente porque uma de suas apostas, Aécio Neves, vinha perdendo força após as eleições de outubro. Se aproximaram de José Serra. E continuaram a estimular o debate (sem grande entusiasmo) do terceiro mandato. Enfim, como treinadores, jogam com várias possibilidades e não revelam a escalação do time. Muitos observadores afirmam que a verdade é que não têm ainda o time escalado.

E assim, o jogo está longe, mas a disputa pela escalação é cada vez mais aguda. Balão de ensaio é a moda do momento. Muito “estudo” sobre o adversário, testes de momento, tentativas de enfraquecimento ou um xeque (nunca xeque-mate) no adversário. Tudo para testar o terreno e o treinador. No momento, o caso mais interessante é a instalação da CPI da Petrobrás. O novo balão de ensaio gerou grande movimentação e blefes. Blefe do PT contra PSDB e PMDB, afirmando que faria o presidente e relator da CPI. Depois recuou. Também blefaram com a emenda do terceiro mandato. A liderança do PSDB, percebendo que o navio naufragava, pediu desculpas na tribuna do Congresso. E tudo vai andando para uma grande pizza.

Mas pizza no que diz a este balão de ensaio. Porque a disputa pela escalação continua quente.

Exclusivo para o blog "O Vagalume", em 21/5/09.

Um comentário:

Adalberto Day disse...

MAis uma bela postagem
O Dr. em Ciencias Sociais (também sou) expressa uma realidade. Espero que não usem a doença da Dilma, para tentar o golpe Branco de levar o Lula a um terceiro mandato. O Lula sempre disse a partir da segunda vez que se candidatou que não iria mais se candidatar, pura besteira e enganação. Agora não duvido do golpe.
Abraços
Adalberto Day cientista social em blumenau.

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