Por RUDÁ RICCI
Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Diretor Geral do Instituto Cultiva (www.cultiva.org.br), da coordenação do Fórum Brasil de Orçamento.
Blog: rudaricci.blogspot.com
Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Diretor Geral do Instituto Cultiva (www.cultiva.org.br), da coordenação do Fórum Brasil de Orçamento.
Blog: rudaricci.blogspot.com
Pelas projeções das últimas pesquisas de intenção de votos para a sucessão de Lula, em março Dilma Rousseff e José Serra estarão definitivamente empatados. Se a tendência não se alterar, nas convenções partidárias de junho, Dilma já estará na ponta e os tucanos terão que criar um fato político para reverter uma crise que poderá afetar até mesmo o fluxo de financiamento antes mesmo de iniciar o embate para valer. Trata-se, contudo, de um cenário que muitos analistas afirmam ser possível, mas que, a partir do teto de 35%, Dilma dependerá de suas únicas habilidades e predicados pessoais. O que coloca dúvidas em relação à manutenção deste crescimento nas pesquisas. No final do ano passado, já era possível perceber que o crescimento das intenções de voto em Dilma está intimamente vinculado com a subordinação à imagem de Lula, o que exige um silêncio de marionetes à candidata petista, algo que ofende sua personalidade. O que leva a crer que em algum momento poderá ocorrer uma “explosão da personalidade” da candidata, durante a campanha ou mesmo em seu possível governo.
Num esforço de construção desta possível “explosão”, valeria fixar os traços até aqui já sabidos da personalidade da candidata petista. O que sabemos, até o momento?
Que Dilma Rousseff é centralizadora e se sente confortável na tarefa de monitorar e exigir resultados;
Que tem tendência a perfil técnico (tão bem ilustrado pelo famoso e sonífero Power Point que a acompanha em reuniões ministeriais). Sabemos que este perfil tecnocrático é impessoal, racional, pouco afetivo, lógico, focado em fins, que valoriza a competência;
Que se cerca de assessores e apoiadores com o mesmo perfil. Este é o caso de Fernando Pimentel e José Dirceu, duas lideranças pouco afeitas ao sorriso e simpatia transbordantes, excessivamente pragmáticos e refratários ao estilo petista dos anos 80.
A partir daí, caímos no mundo dos boatos e fofocas. Num possível governo, teremos uma mudança radical para o público externo, na comparação com Lula. Porque os estilos de governar, para o público interno, são semelhantes: duros, explosivos, pragmáticos, objetivos. Mas no trato com a política e pública externo ao de sua gestão, a lógica é outra.
Na primeira gestão, a grande imprensa procurou ressaltar a dificuldade de Lula superar os laços afetivos que o prendiam a auxiliares problemáticos. Agora, já não bate mais nesta tecla, porque os editores descobriram que Lula é afetivo, mas principalmente pragmático. O poder corre nas suas veias. E aí está uma diferença sutil em relação à Dilma. Não é o poder que corre nas veias de Dilma, mas a eficiência. Na prática cotidiana, significa que a leitura técnica supera a política, o molho do lulismo.
Já tivemos, em tempos recentes, um Presidente com estilo “racional-legal”, que revelou, nas entrelinhas, a pouca tolerância e maleabilidade em situações adversas. FHC não conseguiu sustentar o diálogo com a pressão sindical, em especial, com os petroleiros, logo no início de sua gestão. Também não foi aberto ao debate sobre privatizações de estatais. Não conseguiu injetar esperança em meio às crises internacionais que enfrentou. Justamente porque o estilo racional não é movido por emoção. É movido por certezas que alimentam a partir de suas decisões técnicas. Dilma e FHC, neste sentido, se distanciam do estilo de Lula. O estilo político racional é excessivamente formal e acadêmico. Acadêmico porque se pauta pela verdade técnica ou científica. Weber já havia ensinado que a racionalidade científica não pode tergiversar e por este motivo ser tão distinta da racionalidade política. Um cientista que alterasse resultados dos dados que colheu e analisou em virtude do pensamento da maioria ou da busca de legitimação seria uma fraude. E um líder político que não dialogar e alterar seu pensamento e ação em função do desgaste político será um tirano ou uma estrela cadente.
Os oposicionistas ou os pouco empolgados com a personalidade de Dilma Rousseff intuem esta dificuldade e mudança brusca de estilo em relação às gestões Lula. Algo difícil de expor para o grande público. Inconfessável para os governistas e lulistas e incômodo para a oposição, porque de difícil construção didática. Além do mais, porque se aproxima com o estilo FHC de governar.
Se o estilo de gestão não se alterará, permanece a dúvida em relação às relações políticas externas. Como seria a relação de um governo Dilma com a imprensa? Tenderia a ser mais formal e organizada, mediada por um porta-voz ou assessores mais maleáveis? Poderíamos esperar deslizes freqüentes ou acusações mútuas de intolerância?
Como seria a relação estabelecida a partir da ascensão internacional do Brasil? Deixaríamos o risco de lado, como ocorreu no caso de Honduras, dos fóruns internacionais em que Lula falou de improviso e criou constrangimentos aos membros do antigo G7, diminuindo a visibilidade e atratividade política do país?
Dilma, enfim, faria a lição de casa para preparar a volta de Lula? Se for este o caso, Lula será uma sombra eterna e programada numa possível gestão Dilma? E até que limite a dura e onipresente figura de Dilma gestora tolerará que holofotes recaiam sobre Lula?
Enfim, apesar das perguntas (a maiêutica socrática continua um bom instrumento para desconcertar o interlocutor) há certezas no ar ainda não ditas na base da construção de cenários de um possível governo Dilma. Algo, obviamente, difícil de confirmar e gerar segurança como num cenário de um possível governo Serra. Mas, à distância, e num esforço meramente especulativo, este é exatamente o problema que poderá advir de um possível governo Dilma: será muito próximo do que se espera de um governo Serra.
Num esforço de construção desta possível “explosão”, valeria fixar os traços até aqui já sabidos da personalidade da candidata petista. O que sabemos, até o momento?
Que Dilma Rousseff é centralizadora e se sente confortável na tarefa de monitorar e exigir resultados;
Que tem tendência a perfil técnico (tão bem ilustrado pelo famoso e sonífero Power Point que a acompanha em reuniões ministeriais). Sabemos que este perfil tecnocrático é impessoal, racional, pouco afetivo, lógico, focado em fins, que valoriza a competência;
Que se cerca de assessores e apoiadores com o mesmo perfil. Este é o caso de Fernando Pimentel e José Dirceu, duas lideranças pouco afeitas ao sorriso e simpatia transbordantes, excessivamente pragmáticos e refratários ao estilo petista dos anos 80.
A partir daí, caímos no mundo dos boatos e fofocas. Num possível governo, teremos uma mudança radical para o público externo, na comparação com Lula. Porque os estilos de governar, para o público interno, são semelhantes: duros, explosivos, pragmáticos, objetivos. Mas no trato com a política e pública externo ao de sua gestão, a lógica é outra.
Na primeira gestão, a grande imprensa procurou ressaltar a dificuldade de Lula superar os laços afetivos que o prendiam a auxiliares problemáticos. Agora, já não bate mais nesta tecla, porque os editores descobriram que Lula é afetivo, mas principalmente pragmático. O poder corre nas suas veias. E aí está uma diferença sutil em relação à Dilma. Não é o poder que corre nas veias de Dilma, mas a eficiência. Na prática cotidiana, significa que a leitura técnica supera a política, o molho do lulismo.
Já tivemos, em tempos recentes, um Presidente com estilo “racional-legal”, que revelou, nas entrelinhas, a pouca tolerância e maleabilidade em situações adversas. FHC não conseguiu sustentar o diálogo com a pressão sindical, em especial, com os petroleiros, logo no início de sua gestão. Também não foi aberto ao debate sobre privatizações de estatais. Não conseguiu injetar esperança em meio às crises internacionais que enfrentou. Justamente porque o estilo racional não é movido por emoção. É movido por certezas que alimentam a partir de suas decisões técnicas. Dilma e FHC, neste sentido, se distanciam do estilo de Lula. O estilo político racional é excessivamente formal e acadêmico. Acadêmico porque se pauta pela verdade técnica ou científica. Weber já havia ensinado que a racionalidade científica não pode tergiversar e por este motivo ser tão distinta da racionalidade política. Um cientista que alterasse resultados dos dados que colheu e analisou em virtude do pensamento da maioria ou da busca de legitimação seria uma fraude. E um líder político que não dialogar e alterar seu pensamento e ação em função do desgaste político será um tirano ou uma estrela cadente.
Os oposicionistas ou os pouco empolgados com a personalidade de Dilma Rousseff intuem esta dificuldade e mudança brusca de estilo em relação às gestões Lula. Algo difícil de expor para o grande público. Inconfessável para os governistas e lulistas e incômodo para a oposição, porque de difícil construção didática. Além do mais, porque se aproxima com o estilo FHC de governar.
Se o estilo de gestão não se alterará, permanece a dúvida em relação às relações políticas externas. Como seria a relação de um governo Dilma com a imprensa? Tenderia a ser mais formal e organizada, mediada por um porta-voz ou assessores mais maleáveis? Poderíamos esperar deslizes freqüentes ou acusações mútuas de intolerância?
Como seria a relação estabelecida a partir da ascensão internacional do Brasil? Deixaríamos o risco de lado, como ocorreu no caso de Honduras, dos fóruns internacionais em que Lula falou de improviso e criou constrangimentos aos membros do antigo G7, diminuindo a visibilidade e atratividade política do país?
Dilma, enfim, faria a lição de casa para preparar a volta de Lula? Se for este o caso, Lula será uma sombra eterna e programada numa possível gestão Dilma? E até que limite a dura e onipresente figura de Dilma gestora tolerará que holofotes recaiam sobre Lula?
Enfim, apesar das perguntas (a maiêutica socrática continua um bom instrumento para desconcertar o interlocutor) há certezas no ar ainda não ditas na base da construção de cenários de um possível governo Dilma. Algo, obviamente, difícil de confirmar e gerar segurança como num cenário de um possível governo Serra. Mas, à distância, e num esforço meramente especulativo, este é exatamente o problema que poderá advir de um possível governo Dilma: será muito próximo do que se espera de um governo Serra.
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