Minha cara Angeline, o Festival da Canção de Miracema revelou talentos momentâneos, como a dupla que o Raul Travassos lembrou em seu texto para o Vagalume (Rosa Rizzo e Celeste Scaramignon) ou Carlos Cirino, cuja música eu defendi no primeiro Fecami, e muitos outros, que no embalo do hoje cenógrafo da Globo, trouxeram uma música de protesto ou diferente daquilo tudo que estávamos acostumados a ver, ouvir e aplaudir nas arquibancadas do Cine XV no ano anterior.
Carlos Gualter venceu com “Cores Vivas” o primeiro Fecami e, ao contrário da reclamação do cenógrafo, com méritos e levou para o ano seguinte uma corrente positiva e uma torcida fantástica. Se Raul foi vaiado no Cine XV, por 600 pessoas, e reclamou quarenta anos depois, o que diriam Chico Buarque e Tom Jobim, dois monstros da MPB, quando receberam o prêmio de melhor música do Festival da Globo, “Sabiá”, sob vaias de 20 mil presentes ao Maracanãzinho?
Vaias em festival era o máximo, que o diga Sérgio Ricardo, que nem mesmo conseguiu dizer duas ou três frases do seu ‘Beto Bom de Bola, no Festival da Record. Raul não foi vaiado por sua “Apostasia” e sim por ser de Bom Jesus do Itabapoana e ser diferente no modo de vestir, de se portar e de interpretar a sua canção, também diferente, em uma cidade ainda tradicionalista e conservadora.
Este Fecami, vencido pelo Raul e sua “Apostasia”, teve um outro vencedor, este escriba que vos fala neste momento. O troféu recebido pelo primeiro colocado pode não estar com ele ou em sua sala, mas o que recebi ainda está comigo, há 40 anos, e é mãe de três filhos maravilhosos e o “Vento traga João”, da Marley Serrano, pode não ter trazido, para ela, o que pretendia, mas trouxe Marina para mim justamente neste festival de 1970.
Não vou contar histórias do Fecami, já o fiz em outras oportunidades e está lá no blog do meu livro, mas escrevo apenas para discordar de Raul Travassos, brilhante vencedor do Fecami, que não concordou, após 40 anos, das vaias que levou no Cine XV.
Foi ótimo ouvir os lamentos de Raul, pelo menos me trouxe a lembrança de bons momentos vividos naquele palco como intérprete nos dois primeiros eventos (fui o melhor intérprete no primeiro), e apresentador oficial, ao lado da Pingo, em outros quatro promovidos pelo Fernando Miguel. Não é saudosismo e sim uma baita saudade dos bons tempos de uma cidade que um dia respirou cultura e organização.
Adilson Picanço Dutra
Leiam aqui o que escreveu Adilson Dutra: "Festival da Canção de Miracema".
*Originalmente a carta veio intitulada "Carta Aberta à Angeline", como é do interesse de todos, alteramos para "Carta Aberta ao Blog O Vagalume"
O blog agradece ao Adilson Dutra, nosso conterrâneo e amigo, pela colaboração com suas valiosas reminiscências.
2 comentários:
Gostei na bronca do Adilson na blogueira.
Caro anônimo, não entendi como bronca, ao contrário, agradeci muitíssimo ao autor pelo envio desse depoimento, visite nosso blog mais vezes e entenderá. Abraços.
Postar um comentário