Ouvi uma explanação muito interessante sobre o pensamento de Darcy Ribeiro e ao final a palestrante, Professora Adélia, da UFES, citou o caso da UENF. Falou do Rio de Janeiro sempre com o olhar para a região metropolitana, sem observar a necessidade de desenvolvimento do interior. Àquela altura, com a consciência de que desenvolvimento não acontece sem conhecimento, entra em destaque o papel da universidade como ator chave desse desenvolvimento.
No início da década de 90 foi criada a UENF, em Campos, região Norte fluminense. Como na década de 80, parte dos municípios que integravam o Norte se separaram criando a Região Noroeste fluminense, a UENF posteriormente chegaria também ao Noroeste. E aí vem a descontinuidade dos governos e o projeto não segue adiante. O que talvez tenha corroborado para o isolamento do Noroeste e o atraso em seu desenvolvimento.
Chamou-me a atenção o fato citado pela Professora Adélia em relação à UENF. Ela registra que não houve participação popular, o povo não teve voz na conquista dessa universidade para a região Norte fluminense, não participou. Havia um interesse forte pela universidade por parte de outros atores. E isso colaborou para que a UENF chegasse até Campos.
Recentemente, Bom Jesus do Itabapoana e Italva estão mobilizados para pleitearem uma unidade da UENF no Noroeste fluminense. Acredita-se que Italva tenha uma boa proposta em termos de instalação e os cursos serão relacionados à vocação da região.
Então fico me perguntando sobre a dificuldade de participação popular em diversas outras situações. Não sabemos se é desinteresse, se é problema de acessibilidade, ou se uma reunião de vários fatores. O fato é que a cada dia que passa, ouvimos os gestores públicos usarem o povo para legitimar seu atos, sem que o povo tenha capacidade, tenha informação ou interesse em discernir.
Essa postagem é apenas uma ebulição de inquietudes, em que procuro entender o porquê do isolamento do povo, ao mesmo tempo em que ele é tido como o legitimador de tudo o que é feito por seus representantes. A própria audiência pública, forma muito utilizada para dizer que há participação popular, é uma aberração. Colocam-se pessoas técnicas para falar em linguagens não acessíveis ao povo e ao final decide-se - com o apoio popular (?).
Estaria certa a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello quando dizia que "o povo é apenas um detalhe"? Não estamos aqui afirmando nada, ao contrário é uma total inquietação sobre aquilo que precisa ser investigado e avaliado com muito carinho a fim impedir que o povo continue sendo usado como legitimador de ações muitas vezes perniciosas. No caso da UENF, em Campos, os poucos interessados salvaram o povo, que só percebeu as vantanges depois. É preciso que o povo deixe de ser o detalhe, para ser a substância.
6 comentários:
Como estará dona Zélia vivendo em Nova Iorque, com a pensão paga por Chico Anísio para seus filhos, ou terá levado para lá sua poupança, que um dia, em triste decisão, confircou juntamente com a nossa ? Quero acreditar que não tenha tirado antes seus trocados...Por que nunca mais voltou para a santa terrinha ? Por vergonha ou para não ser mero detalhe? abrss Zé Maria.
Verdade, Zé Maria, essa frase emblemática da Zélia continua em nossos ouvidos até hoje...Foi tenebroso o período Collor.
No caso das Universidades, não se estuda a Demanda local e sim o ganho Político e talvez mais alguma coisa que não sei e nem posso afirmar por não ter como provar.
O Mercado está lotado de Graduados desempregados ou em Subempregos, enquanto há uma FALTA ENORME DE TÉCNICOS ESPECIALIZADOS. Há muito " Curioso ": " Ah, eu ' mexo " com eletricidade, com obra, com serviço de bombeiro etc... "
" Mexer " e causar danos sérios é um passo bem pequeno.
O Mercado e nós, usuários, precisamos de profissionais preparados, especializados e que façam o serviço com segurança e capacidade porque pagamos muito caro aos " mexedores " e mais caro ainda às suas consequencias.
Mas nossa Cultura, ainda da época dos Escravos, de que Técnico é para quem tem Menor Capacidade Intelectual e Maior Capacidade Braçal, ainda continua " arraigada " em nosso Povo; dai o Não Investimento e a NÃO VALORIZAÇÃO DOS CURSOS TÉCNICOS.
E bato Palmas para o Vereador Paulinho Azevedo que enxergou este " buraco " e correu atrás com o pedido da FAETEC-CVT ( Nível Técnico ). Vou torcer para dar certo e a demanda para Cursos Técnicos que atendam a Região encham as Turmas e o Comércio e Empresas Vizinhas absorvam os Estagiários e depois os aproveitem, pelo menos uma parte.
Rachel Bruno
Rachel, só um adendo, o CVT não é curso técnico, de ensino médio, é curso profissionalizante. Para não dizer que não falei das flores, o Estado tem interesse em instalar CVT´s em todos os municípios e daí levar ou não a escola técnica da FAETC (formação técnica de ensino médio).
Angeline,
Sou também intrigada com a questão das decisões que deveriam ser ouvidas do povo. Tenho vivenciado como, em questões pequenas, os pais são ausentes. Acredito no poder da educação e creio que tivemos muitas conquistas. A questão é: os políticos querem pessoas cultas, que questionam, que participam dos conselhos e dos movimentos sociais??? Mesmo nos fins da década de 70 e 80 os movimentos que aí configuraram (não menosprezando sua importância) contaram com o povão??? Aqueles de pé no chão???
O capitalismo se torna cruel ao desmontar o poder da coletividade e nos tornar mais consumista e menos solidários...
Amanda Bersacula de Azevedo
Amanda,
Você foi ao cerne da questão.
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