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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

"Apocalipse ou Gênesis Invertido"

Recebi anteontem um e-mail muito bonito de Victor José Ferreira, como de praxe ele envia a "Domingueira Poética", que já foi título de muitas postagens desse blogue, onde ele apresenta entre outras coisas um belo poema de Affonso Romano de Sant´Anna, intitulado "Apocalipse ou Gênesis Invertido". Veja o que ele explica no início e aproveitem para conhecer o poema.

Querid@s Amig@s,
Esta Domingueira leva para Vocês um tríplice conteúdo:
a) um poema de Affonso Romano de Sant´Anna, que sairá em seu próximo livro, cujo título provável é "Exercícios de Finitude";
b) um poema da Agitadora Cultural Lydia Simonato;
c) o link para o blog do escritor e tradutor Ivo Korytoswski.
Os dois poemas nos reportam à tragédia que se abateu neste mês sobre a Região Serrana e algumas das cidades interioranas do Estado do Rio.
Sobre seu poema, me disse o Affonso: "É meio apocalíptico, foi escrito antes, mas o novo livro que vai sair tem coisas assim, e a culpa não é minha". Disse ele ainda: "Qualquer semelhança com o noticiário nos jornais e na televisão é mera coincidência".
Vamos ao poema dele, pois:
APOCALIPSE OU GÊNESIS INVERTIDO
Affonso Romano de Sant´Anna
No sétimo dia
(antes do fim)
as geleiras fendidas
desabarão
focas, pinguins e ursos
deixarão suas ossadas
no deserto em formação
ilhas imprevistas emergirão
e o que agora é continente
será um conteúdo
na escuridão

No sexto dia
(antes do fim)
desnorteados pássaros
não saberão
de onde vieram e para onde vão
subvertida a ordem dos mares e florestas
seres atônitos seguirão o rumo
do vento e da aflição

No quinto dia
(antes do fim)
choverá fogo no inverno
enlouquecidas as estações
as colheitas se perderão
devoradas por bactérias
germinadas
do próprio grão

No quarto dia
(antes do fim)
peixes envenenados boiarão
entre sargaços e destroços
e os corais também mortos
não chorarão

No terceiro dia
(antes do fim)
no esqueleto das cidades
máquinas desoladas
bactérias desesperadas
do próprio nada comerão

No segundo dia
(antes do fim)
o homem e a mulher
cobertos de chagas e solidão
se deitarão no barro
e desaparecerão

No primeiro ou último
dia antes do fim
Deus
desolado
se retirará
para outra galáxia
e contemplando as trevas
dissipando a criação
sentirá
um pesado vazio em suas mãos

Agradeço ao Victor as domingueiras que me envia e trazem sempre bons momentos de alegria, reflexão e sentimento. Por isso compartilho com os leitores vagalumes.

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