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terça-feira, 31 de maio de 2011

O problema da política nacional está em São Paulo?

Rudá Ricci

Nos últimos anos é cada vez mais comum ouvir de várias lideranças que todos conflitos políticos graves do país nascem em São Paulo. Obviamente que os únicos que não fazem tal análise são os paulistas. No nordeste é evidente até mesmo certo ódio contido. Em Floriano (Piauí) cheguei a ser aplaudido por todos presentes em pé porque disse que somente quando me mudei para Minas Gerais pude perceber a barreira intelectual, política e cultural que São Paulo impõe ao resto do país. Quando vi a reação fiquei até chateado com o que parecia um evidente arroubo populista de minha parte. 
Mas o fato é que os últimos dias foram fartos de evidências sobre o estilo paulista de fazer política. No ano passado eu cheguei a fazer um decálogo do jeito paulista de fazer política, centrado na a) autosuficiência; b) arrogância; c) ética do sucesso; d) disponibilidade total para a guerra; e) força com pouca astúcia; f) estresse; g) ansiedade travestida de racionalidade; h) impessoalidade; i) corrida contra o tempo e; j) demonstrações públicas. E não foi justamente isto que foi revelado nos últimos dias com a crise aberta pelo “Caso Palocci” e “Convenção-Crise do PSDB”?
Já se disse muito de Palocci. Mas o mais interessante é perceber que forma, no caso dele, não condiz com conteúdo. Sorridente, contido, afável, a forma nunca parece casada com o conteúdo avassalador, dominante, impositivo e até mesmo debochado em relação às intenções gerais e públicas. Como bom paulista, ficar como está nunca será seu lema. Até parece adotar o hino de um time de futebol: “vencer, vencer, vencer”. Não. Vencer é pouco. O seu lema é “avançar, avançar, avançar”. É o supra-sumo da síntese política paulista. Avançou o sinal sobre a área econômica do governo federal e se tornou uma espécie de primeiro-ministro (ademais, posto que já ocupava ainda na campanha do segundo turno, quando era procurado por todos para discussão da composição de governo). Não seria de se estranhar que ganhava algumas batalhas mas já indicava que poderia não ganhar a guerra. O fogo amigo logo surgiu. E continua a chamuscar os enormes ternos que o ministro empunha.
Serra é unha e carne, em estilo, de Palocci. A diferença é que no seu caso a forma está intimamente associada ao conteúdo, o que faz de Serra um política menos arrependido. Talvez porque um seja do interior paulista e o outro da capital. Mas é uma mera hipótese. A questão é que Serra gosta de demonstrar força, o que nem sempre comprova na prática. A convenção-crise do PSDB foi uma nítida demonstração deste erro tático permanente, que já havia feito alguns feridos nas eleições passadas. Ás vésperas da convenção-crise, municiou a grande imprensa. Mandou recados sobre quais cargos desejava (ou impunha) na direção nacional e ameaçou não estar presente na reunião tucana. Ora, não consigo me lembrar de um caso similar em que esses recados tenham sido tão fartamente enviados em meio a tal demonstração de fraqueza política. É como se Serra fosse um autista social: não conseguia assimilar que estava cercado e isolado. 
Imaginemos que ele não tivesse cedido e aceito o cargo-consolação de membro de um conselho político de um partido que tem vários caciques que se opõem a ele já encastelados nos principais cargos de direção do PSDB. O que teria ocorrido se não tivesse comparecido à convenção-crise? Nada para o lado de lá, com certeza. Mas para o seu lado, não restaria alternativa que abandonar o partido. E iria para onde? Para o partido de Kassab? Mas Kassab depende das benesses do governo federal. Serra sem PSDB é algo parecido com aquela letra de música que diz que o cantor parece com “avião sem asa, fogueira sem brasa, futebol sem bola“. Os serristas afirmam que seu líder é depositário de 40 milhões de votos. Imagino que agora já perceberam que não são, dada a surra que levaram na convenção-crise. Eleição no Brasil é quase sempre uma foto de momento, uma aposta de momento (a se confirmar) ou um resultado de explosão midiática. Sem poder e sem manutenção da presença midiática, os 40 milhões de votos não significaram nada para o aecismo/tucanato nordestino. Os desafetos de Serra passaram atropelando sem mesmo olhar pelo retrovisor para saber quem foi a vítima. 
Pode ser que os políticos paulistas não sejam o pomo das grandes discórdias nacionais. Pode ser que sejam até mesmo as vítimas das discórdias políticas. Mas que estão sempre envolvidos em pelejas nacionais, isto não se tem dúvida.

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