Via vereador do Rio de Janeiro, Prof. Tarcísio Mota.
TRAGÉDIA EM PETRÓPOLIS REFORÇA NECESSIDADE DE AÇÕES DO PODER PÚBLICO. ABAIXO, LISTAMOS 15 PONTOS ESSENCIAIS A PARTIR DO APRENDIZADO NA CPI DAS ENCHENTES.
Em 2019, nosso mandato presidiu, na Câmara do Rio, a CPI das Enchentes. Foi um trabalho intenso que durou vários meses. O relatório final apresentou 105 recomendações e sugeriu o indiciamento de 5 autoridades. Essa experiência nos ajuda a responder à questão que hoje toca a todos nós, abalados com a tragédia em Petrópolis: o que o Poder Público deve fazer diante das catástrofes climáticas, cada vez mais severas e recorrentes?
Desastres são muitas vezes tidos como fatalidades naturais, acontecimentos inevitáveis. Essa visão equivocada impede a compreensão da sua dinâmica socioambiental e dificulta propor soluções e apontar responsabilidades.
Desastres são danos e prejuízos resultantes do impacto de um evento adverso, como as chuvas que atingiram Petrópolis, sobre o contexto socioambiental de um território. Sua intensidade depende da interação entre a magnitude do evento e a fragilidade da área impactada. Ou seja, todo desastre decorre da exposição de uma vulnerabilidade a uma ameaça.
Nas cidades, as vulnerabilidades estão relacionadas às características físicas da paisagem urbana, à qualidade dos serviços públicos e à dinâmica de uso e ocupação do solo. Logo, o poder público é responsável pelo grau de exposição socioambiental de um município a uma ameaça.
Contudo, mesmo quando os temporais atingem toda a cidade, os estragos tendem a se concentrar nas regiões com menos cobertura florestal, infraestrutura urbana e serviços assistenciais. Ou seja, a maior parcela dos riscos recai sobre os mais pobres. Por isso, podemos afirmar que os desastres nos informam mais sobre as desigualdades do território atingido do que sobre a potência das chuvas. Eles escancaram nossas injustiças socioambientais.
A situação se torna ainda mais grave devido às mudanças climáticas decorrentes do colapso ecológico global que estamos vivenciando: tudo indica que os problemas tendem a se agravar nos próximos anos. Logo, o poder público precisa tomar medidas urgentes para evitar novas tragédias.
Por isso, organizamos uma primeira lista de ações essenciais que devem ser empreendidas pelo Poder Público antes, durante e depois de eventos climáticos extremos como os vistos desde o fim da tarde de ontem na Região Serrana.
- Implementar a Política Estadual sobre Mudança do Clima e o Fórum Rio de Mudanças Climáticas, em acordo com a Lei 5.690/2010.
- Criar um Sistema Estadual de Prevenção e Mitigação de Desastres Socioambientais, composto por um Conselho, um Plano e um Fundo que irão deliberar as políticas prioritárias, definir as diretrizes e reservar os recursos necessários para garantir a proteção socioambiental do estado.
- Criar um Centro Estadual de Operações e Resiliência (CEOR), dando-lhe estrutura e capacidade de pesquisa, cartografia, planejamento, monitoramento e coordenação técnica sobre as políticas públicas de proteção socioambiental do estado.
- Garantir que as verbas federais previstas para obras de contenção de encostas, drenagem de rios e saneamento básico sejam repassadas com celeridade e os recursos sejam executados como previstos.
- Proibir que as verbas públicas de prevenção e ajuda às vítimas sejam remanejadas para outras áreas do orçamento.
- Implementar um Plano Geral de Ação Durante Emergências para organizar a atuação integrada dos diferentes órgãos e esferas de poder (federais, estaduais e municipais) que devem agir durante momentos de crise.
- Instituir sistemas de alerta e alarme em todas as regiões do estado para monitorar as condições meteorológicas e informar a população sobre a proximidade de fenômenos climáticos extremos.
- Implementar programas de Agentes Comunitários de Defesa Civil que teriam o papel de identificar vulnerabilidades nos territórios, contribuir para a conscientização da população local e agir no momento das chuvas como orientadores.
- Garantir estrutura, ampliar recursos e investir na capacitação técnica dos servidores para aprimorar a atuação da Defesa Civil.
- Promover simulações periódicas com a população que reside em áreas de risco geológico e hidrológico para treinar o que fazer no momento das fortes chuvas.
- Garantir rotas de fuga seguras para pontos de apoio que ofereçam estrutura assistencial capaz de atender as pessoas que vivem em áreas de risco geológico e hidrológico durante momentos de crise.
- Implementar um programa de Auxílio Moradia para desabrigados e desalojados, promovendo reajustes periódicos dos valores do auxílio de acordo com a inflação, até que seja oferecida uma alternativa habitacional permanente às famílias impactadas.
- Investir em políticas de moradia digna, priorizando a oferta de alternativas seguras para as famílias que residem em áreas de risco geológico e hidrológico.
- Garantir a ampliação da rede de coleta e tratamento de esgoto em todas as cidades do estado.
- Instituir a prática de balanço técnico-político da atuação do poder público ao final de cada processo de gestão de crises e desastres, com o objetivo de aprender com as lições do passado para não repetir os mesmos erros no futuro.
Para ler mais e conhecer o Relatório da CPI da Enchentes citado, clique aqui.
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