Miguel Bruno de Martino Filho e os Cinemas XV de Novembro e Sete de Setembro: Uma História de Amor e Dedicação
No dia 07 de julho pp participamos da inauguração do Cinema da Cidade José Ferreira de Assis - Unidade Miracema - projeto do Ministério da Cultura/ANCINE, Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Prefeitura de Miracema/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
Este projeto objetiva a implantação de complexos de cinema em cidades com mais de 20 mil e menos de 100 mil habitantes que não dispõem desse serviço. O de Miracema possui duas salas de projeção denominadas: Miguel Bruno de Martino Filho, meu saudoso e querido pai e Elenora de Martino Salim, a não menos querida prima Pingo, como era mais conhecida em nossa cidade. Essas homenagens são um tributo justo e merecido! Na próxima edição, falaremos mais sobre Pingo. Nesta, vamos abordar um pouco da história da origem dos primeiros cinemas de Miracema.
O cinema está presente em nossa família desde a década de 1910, quando nosso avô, Miguel Bruno de Martino foi presidente da Sociedade Musical XV de Novembro. Como nessa época a XV não dispunha de recursos financeiros para instalar um cinema, Miguel Bruno e Antero Perlingeiro, montaram uma sociedade a fim de custear o tão sonhado “Cinema XV”. As primeiras fitas foram trazidas por meu avô, do Rio, para exibição no mais novo empreendimento do então progressista distrito de Miracema. Lembramos que nessa época o Cinema Sete já estava em funcionamento.
Miguel Filho, após o falecimento prematuro de seu pai, mudara-se com a família para outro imóvel que possuíam na Rua Francisco Procópio, ao lado da Sociedade Musical Sete de Setembro. Acreditamos que além do interesse do pai pelo tema, essa proximidade com o Cine Sete, tenha despertado sua atenção por tudo que se relacionasse com a sétima arte.
Ainda rapaz passou a pintar as tabuletas usadas para divulgar os filmes, distribuídas na fachada da Sociedade Musical Sete de Setembro e em pontos estratégicos da cidade, como a esquina do Bar Pracinha onde, antes da exibição, os fiéis frequentadores se postavam para admirar as fotos de cenas dos filmes e os nomes dos artistas/diretores. Com o tempo, vendo o seu interesse, a empresa proprietária do Cine Sete o convidou para gerenciar aonde aquela casa, o que fez gratuitamente. Somente quando o Cine Sete foi adquirido pela empresa Jarbas Maia, em 1941, é que passou a ser remunerado por seu trabalho. No Cine Sete permaneceu até o seu fechamento.
Tempos depois, a Empresa Fluminense de Cinema Taubaté, que explorava o Cine XV de Novembro, adquiriu a firma Jarbas Maia que explorava o Cine Sete. Miguel a partir dessa época passou a gerenciar os dois cinemas: O Cine XV e o Cine Sete. A fim de aprimorar seu conhecimento técnico, matriculou-se no Instituto de Artes y Ciências Cinematográficas, em Hollywood, nos EUA. Tempos depois, o Cine XV adquiriu a tela em CinemaScope - que causava o delírio da plateia e ampliava as filas para adquirir ingresso.
Na década de 60 o Cine Sete fechou suas portas e a Sociedade Musical XV de Novembro transferiu-se da Rua Cel. José Carlos Moreira para um terreno adquirido para a construção de sua nova sede, localizado na atual Avenida Dep. Luiz Fernando Linhares. O novo Cine XV possuía 900 lugares e foi por muitos anos a segunda maior sala do estado, com Bombonière - como era chamada a estante envidraçada de venda de doces, balas, bombons. Seu entusiasmo era tão grande com aquela obra que, por reiteradas vezes, ao lado de outros sócios, foi visto fixando os grampos nos tacos de madeira usados no revestimento do piso.
Na enchente de 24 dezembro de 1971, que assolou Miracema, o Cine XV de Novembro ficou com parte de suas luxuosas instalações totalmente submersas. Além de perder todo o seu carpete, soltar os tacos, molhar poltronas forradas de couro, a água afetou o sistema de refrigeração instalado no subsolo, comprometendo sua utilização para sempre. Miguel, já doente, fez questão de verificar os estragos, mesmo sabendo que o que encontraria lhe causaria muita tristeza. E, assim, não suportou ver no que tinha se transformado aquele espaço pelo qual havia dedicado parte de sua vida. No dia vinte e um de fevereiro de 1972 faleceu, vítima de infarto do miocárdio.
Miguel fez parte do Rotary, foi Tesoureiro do Hospital de Miracema, pertenceu ao Grande Oriente do Brasil, foi Chefe da Agência de Estatística do IBGE, sócio fundador da Sociedade Musical XV de Novembro e da Associação Atlética Miracema, dentre outras instituições.
O cinema está presente em nossas vidas porque sempre foi um prolongamento de nossa casa. Em 2001, sua sobrinha, a cineasta Malu de Martino, dedicou à sua memória o seu primeiro filme: Ismael e Adalgisa, interpretados por Christiane Torloni e Murilo Rosa.
Nota: “CinemaScope foi uma tecnologia de filmagem e projeção, que utilizava lentes anamórficas, criada pelo presidente da Twentieth Century Fox, em 1953. Foi utilizada entre 1953 e 1967 para a gravação de filmes widescreen, marcando o início do formato moderno tanto para a filmagem quanto para a exibição de filmes”
Disponível em: https://andrexoxo.wixsite.com/liberdadedeexpressao
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