Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, do Fórum Brasil de Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa.
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O fenômeno Dilma Rousseff é, até agora, marcada pela transferência de popularidade do Presidente Lula. A última pesquisa Vox Populi sugere esta conclusão. No relatório de pesquisa encontra-se: “questionados sobre se votaria no candidato apoiado pelo presidente Lula, 23% dos eleitores responderam que com certeza. 41% deles poderiam votar, dependendo do candidato, 10% não votariam e 22% não levariam isso em conta”. Uma soma que gera um potencial de voto em 64% dos eleitores. Este índice, inclusive, é próximo dos 65% de eleitores, segundo o DATAFOLHA, que afirmam já conhecer a ministra (o índice em março era de 53%). Aécio Neves é conhecido por 61% dos eleitores e José Serra por 95%.
Avaliações de outros institutos de pesquisa, como o IBOPE, contudo, sugerem que Dilma Rousseff teria como teto de intenção de votos a marca dos 25%. Caso a sugestão esteja correta, a candidata lulista estaria próxima de seu ápice e teria, para continuar sua caminhada, que continuar retirando votos de José Serra e, principalmente, Ciro Gomes, candidato de quem mais vem sugando votos. Segundo o DATAFOLHA, num cenário sem José Serra, Ciro Gomes e votos brancos/nulos são os principais concorrentes de Dilma Rousseff, como vemos no gráfico:
Neste cenário fica mais nítido que Ciro Gomes é o competidor imediato de Dilma Rousseff, estando num campo político muito próximo.
Dissecando as possibilidades de Dilma podemos perceber que o seu problema mais imediato é a inexperiência em cargo executivo e passado político pouco conhecido. Segundo o DATAFOLHA, para 92% é muito importante que o candidato nunca tenha se envolvido em casos de corrupção, 85% dão muita importância ao fato dele ter experiência administrativa e 75% consideram de vital importância que ele tenha um passado político conhecido. Já problemas de saúde não são tão valorizados: na opinião de 45% é muito importante que o candidato à Presidência não tenha problemas de saúde.
O obstáculo imediato parece ser, realmente, Ciro Gomes. No sul do país, Dilma aparece em várias regiões metropolitanas empatando em segundo lugar com o paulista-nordestino (caso de Curitiba, onde José Serra aparece com 43% na pesquisa IBOPE, seguido por 17% de Ciro Gomes e 15% de Dilma Rousseff). A candidata tem o melhor desempenho e apoio no nordeste. Aliás, o Jornal Tribuna do Norte, do Rio Grande do Norte, realizou pesquisa em que o eleitor nordestino afirma que gostaria que o próximo vice-Presidente da República fosse oriundo de sua região, mas preferencialmente tendo como cabeça de chapa um indicado pelo Presidente Lula. No nordeste, pesquisas encomendadas pelo PSDB indicam que a ministra já teria superado a marca dos 20% das intenções de voto e estaria retirando votos de Ciro Gomes e Heloísa Helena, como noticiou Célio Gomes, editor do jornal Gazeta de Alagoas, em seu blog. Com efeito, a candidatura sCiro Gomes sofre oposição nos Estados nordestinos politicamente capitais, como é o caso da Bahia (governada pelo PT) e até mesmo de Pernambuco, governado por Eduardo Campos, filiado ao mesmo partido, mas que apóia Dilma Rousseff.
O fato é que, no momento, segundo pesquisa IBOPE/CNI, 60% daqueles que têm intenção em votar em Ciro Gomes afirmam ter total segurança nesta decisão. Os outros 40% seriam, justamente, a diferença para que Dilma Rousseff atinja a marca dos 25% das intenções de voto. Parte desta constatação as várias citações do nome de Ciro Gomes, por petistas, no final de junho. Desde o lançamento de sua candidatura ao governo de São Paulo pelo deputado petista Cândido Vacarezza, até a declaração da ministra Dilma que gostaria de tê-lo como vice em sua chapa para a Presidência da República. O PT procura uma saída honrosa para Ciro Gomes que garantisse, desde já, a transferência dos seus votos para a candidata lulista.
O terceiro obstáculo é o índice de rejeição: 1/3 dos que afirmam conhecer Dilma a rejeitam. Na pesquisa IBOPE/CNI, 27% responderam que "com certeza" votariam em Serra, 13% que votariam em Dilma e 10% em Ciro Gomes. Outros 8% disseram ter certeza de que escolheriam Aécio Neves e 6% que a preferida é Heloisa Helena. Ciro Gomes empata com José Serra, em 38%, na resposta "poderia votar nele". Heloisa Helena ultrapassa Dilma nessa resposta, tendo 27% contra 26% da ministra. Aécio fica com 21%.
Finalmente, o obstáculo regional. Desde o abril deste ano, Serra aparece à frente nas regiões sul e sudeste. Segundo o DATAFOLHA, Serra seria o candidato mais bem votado no Sudeste e Sul, girando ao redor de 45% das intenções de voto. Mas teria menos votos no Nordeste, gravitando ao redor dos 30%. A ministra Dilma teria melhor desempenho na região Nordeste e no Centro-Oeste. E teria seu pior desempenho no Sudeste, girando ao redor de 10%.
Tais obstáculos reforçam, como se percebe, o ataque petista sobre a candidatura de Ciro Gomes, o que sedimentaria, ainda neste ano, a candidatura lulista no nordeste e polarizaria definitivamente com José Serra. Trata-se de uma possível profilaxia pré-eleitoral. O que garantiria, mais uma vez, a situação de polarização partidária no país, entre tucanos e petistas. Talvez, nesta altura da história política nacional, o mais correto seria afirmar polarização entre tucanos e lulismo.
O artigo, enviado ao e-mail da blogueira, em 21/06/2009, foi também publicado no site www.cultiva.org.br
2 comentários:
O Vox Populi embaralhou tudo
Pesquisa divulgada ontem na TV Bandeirantes contradisse frontalmente o Datafolha. Agora as acusações de fraude ganharam alguma solidez. A diferença nos números supera as margens de erro e é muito grande para ter sido provocada apenas por especificidades na preparação dos levantamentos.
O cenário do Vox Populi renova as chances de Dilma Rousseff, relativiza a influência de Ciro Gomes e indica a inevitabilidade de um segundo turno, qualquer que seja o quadro de candidatos – de modo chocante, são conclusões quase opostas às sugeridas pelo Datafolha. E, novamente, as lacunas falam por si: não houve gráfico mostrando as curvas de José Serra (descendente) e Dilma (ascendente), nem projeção de segundo turno ou (por que será?) uma amostragem da rejeição espontânea do eleitor.
As próximas pesquisas serão importantes para medir até onde o grupo Folha está disposto a mergulhar para influenciar as eleições vindouras. Houve a planilha de gastos do casal FHC, depois a ficha falsificada contra Dilma e atualmente essa lamentável, patética orquestração para atingi-la através de uma ex-funcionária ressentida e flagrantemente mentirosa. Caso insistam no equívoco e se dediquem a inventar realidades virtuais, instituto e grupo jornalístico vaporizarão a pouca credibilidade restante. E me pergunto: valerá a pena?
Guilherme,
Acho melhor termos bastante cautela. A Bandeirantes não é tão isenta como imagina. Basta assistir as análises políticas em período eleitoral. Temos que analisar a série histórica das pesquisas de intenção de voto. Acredito que estamos presenciando um momento atípico ao que ocorria até então: Dilma se refugiou e diminuiu o ritmo de viagens e Serra tem este balão de ensaio que estaria pensando em não ser candidato a Presidência (que também esfria a disputa que se desenhava). Ora, o eleitor médio terá menos exposição dos dois principais candidatos.
O que merece atenção é a data de 3 de outubro, data limite para filiação em partidos (ou mudança de partidos) para candidatos do próximo ano. Em seguida, abril, data limite para desincompatibilização de cargos públicos. A partir daí saberemos o que era blefe.
Nova data: junho/julho, quando as convenções serão realizadas.
No mais, temos que acompanhar a série histórica. Hoje, elas definem as chances de pré-candidatos.
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