O que é o patrimônio de uma nação? Os economistas diriam que são seus bancos, empresas, o PIB. Os ecologistas defenderiam os recursos naturais, a fauna e a flora.
O que defenderiam os arquitetos, historiadores, sociólogos, antropólogos e demais humanistas? - Nossas igrejas, nossas cidades, museus e obras de arte.
Todos estão certos; mas a cultura de um povo é mais, é aquilo que se pode carregar consigo e transmitir ao longo dos tempos. Não apenas o que temos e possuímos, mas também aquilo que é traço inerente e definidor de nossa personalidade; nossa Identidade.
O patrimônio cultural é um componente vital de todo processo civilizatório. De fato, não há desenvolvimento cultural sem o embasamento de experiências já realizadas; sem invenções artísticas e sociais vinculadas à tradição. Eruditas ou populares. Estas são as marcas da história e da identidade de um grupo social.
Os objetos representativos dessas experiências e invenções são os elementos tangíveis dessa memória. Para cumprir o seu papel social, no entanto, esse acervo não pode se resumir à condição de um arquivo arqueológico à disposição dos estudiosos da história e da arte ou a ser oferecido, quando possível, à fruição do público. Não pode ser visto, em suma, apenas num sentido mítico, de admiração pelo passado. Os bens culturais tombados devem se integrar à vida de hoje. Eles participam, com sua carga de valores históricos, artísticos e sociais, da construção do nosso futuro.
Nossa Constituição afirma que nosso patrimônio cultural é integrado por bens matérias: Museus, Igrejas, obras de arte e documentos. E também pelos bens, ditos imateriais, aqueles que representam o conhecimento e o saber fazer de nosso povo; a culinária; a música, a literatura, as danças e festas populares; as técnicas e o conhecimento construtivo ao longo dos tempos.
“Pra se entender/ Tem que se achar/ Que a vida não é só isso que se vê/
É um pouco mais/ Que os olhos não conseguem perceber/ E as mãos não ousam tocar”
Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho in Sei lá , Mangueira
Nesta visão moderna do patrimônio, ou nesta concepção do patrimônio como um dado integrante da modernidade, a participação da sociedade é fundamental e determinante.
Percebeu-se que a partir da proteção dos núcleos históricos e dos monumentos integrantes do contexto urbano é possível defender a qualidade de vida nas cidades e determinar seu crescimento harmonioso, fundado na continuidade da tradição e da identidade local. Percebeu-se também que o conjunto de bens culturais forma um quadro em torno do qual se reforça essa identidade e se estabelece uma concepção solidária, embora diversificada, de objetivos comuns e modos autênticos e peculiares de expressões coletivas. O patrimônio é o tema em torno do qual as comunidades cultivam um sentimento de auto-estima e o exercício da cidadania.
Nossas experiências múltiplas e diversificadas são conteúdo de nossa tradição autêntica. Constituem parte da matéria com a qual vamos moldando, no presente, a construção do nosso futuro. É com esta memória ativa que temos de lidar no trato das questões do patrimônio.
Um fato referente ao crescimento do interesse pelo patrimônio e à preocupação com a identidade nacional é o envolvimento da coletividade na defesa de nossos bens culturais, através de ações isoladas ou comunitárias e da contribuição do poder econômico. No período entre 1995 e 1998 deu-se a maior importância a esse novo conceito. Adotou-se uma política que reconhecesse, favorecesse e incrementasse o envolvimento das comunidades transformando-o em participação efetiva. Consideramos esta questão, hoje, fundamental para a preservação e valorização do patrimônio cultural brasileiro.
Num país com a extensão territorial do Brasil e um largo acervo de bens tombados em expansão, é fundamental a descentralização das tarefas envolvendo os cuidados com o patrimônio. 0 desdobramento da preocupação e interesse com o tema do patrimônio pode ampliar esse encargo, multiplicando os bens a serem protegidos a partir de óticas diferentes, mas certamente facilita as parcerias e a combinação de esforços.
Nosso acervo de bens tombados, formado a partir de 1938, é muito rico e variado, devendo crescer e se diversificar ainda mais. Ele inclui bens móveis e imóveis, bens naturais e sítios arqueológicos. Está distribuído por todo o extenso território nacional, nas cidades mais visitadas ou fora dos roteiros habituais. Muitas vezes em lugares remotos ou até de difícil acesso.
No caso do patrimônio edificado, é necessário integrá-lo ao contexto urbano, torná-lo ativo e vivo, através do uso adequado. Precisa ser restaurado, mantido e valorizado. Para tanto, é necessário que esteja inserido no dinamismo da vida cultural, social e econômica de hoje.
Assim como nenhum monumento, nenhum bem do patrimônio edificado pode ser visto isoladamente, fora do contexto urbano onde está situado. Na verdade, a sua presença se reflete sobre a totalidade do quadro, interage com a estrutura das cidades.
0 acervo do patrimônio cultural no Brasil, isto é, o patrimônio edificado, as cidades e sítios históricos, as obras de arte integradas aos monumentos ou espalhadas pelos museus, os bens imateriais, as paisagens e as marcas arqueológicas constituem um conjunto extremamente variado, disperso por todo o território nacional, sujeito a condições muitas vezes precárias de conservação em decorrência do clima, da sua localização em situação remota, em locais pobres e desassistidos. É um conjunto cuja característica impressionante é a fragilidade.
Nossas construções do passado, exceto os monumentos e casas das cidades mais importantes, são em geral de materiais precários, como a taipa e a madeira, raramente de alvenaria de pedras, também sujeitas à agressão do meio tropical. Muitas obras da produção artística do período barroco estão em igrejas localizadas em minúsculas cidades perdidas pelo interior do país.
O lado visível disso tudo é representado pelas obras de restauração nos grandes centros, as intervenções de vulto nos sítios históricos, as grandes exposições nos museus nacionais. Seu resultado é o surgimento da consciência social quanto à importância da preservação e o envolvimento da comunidade nos cuidados com o patrimônio.
Para lidar com os objetos do patrimônio é necessário antes de tudo identificá-los, classificá-los, contextualizá-los, conhecer as técnicas empregadas na sua execução, e as qualidades artísticas, culturais e históricas de que estão revestidos. Para impedir a sua deterioração é preciso intervir constantemente na sua conservação e fiscalizar as eventuais ameaças à sua integridade.
O tombamento atinge claramente um objetivo concreto, sobre o qual repousa algum especial atributo de valor histórico, artístico ou simbólico. Por meio dele se preserva, para o futuro, um testemunho da nossa identidade ou das nossas identidades.
DESAFIO DO BLOG: Essa imagem é o florão de um dos imóveis do Centro Histórico de Miracema. Quem adivinhar que imóvel é, ganhará um grande lampejo do vagalume.
4 comentários:
Seria a Casa sobre a Locadora do Serginho Amim. Onde morava Helio Guterres.
Abraços, Larry.
Caro amigo Larry:
Irei lhe responde, mas vamos aguardar mais opiniões.
Vou arriscar, a CASA DA BEBEL, perto da prefeitura de Miracema.
Recebemos essa mensagem por e-mail e divulgamos:
Amiga Angeline
Excelente a matéria Memória e Identidade.
No nosso último encontro em Paraíso do Tobias, a bronca da Rachel, foi não ter consiguido a lmpesa pública na área do mesmo.
Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos
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