Arquivo VAGALUME

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

MEMÓRIA E IDENTIDADE



Autor: Luiz Marcello G. Ribeiro, Gerente Executivo de Projeto - TENDA DA MEMÓRIA 


O que é o patrimônio de uma nação? Os economistas diriam que  são seus bancos, empresas, o PIB. Os ecologistas defenderiam os recursos naturais, a fauna e a flora. 
O que defenderiam os arquitetos, historiadores, sociólogos, antropólogos e demais humanistas? - Nossas igrejas, nossas cidades, museus e obras de arte. 
Todos estão certos; mas a cultura de um povo é mais, é aquilo que se pode carregar consigo e transmitir ao longo dos tempos. Não apenas o que temos e possuímos, mas  também aquilo que é  traço inerente e definidor de nossa personalidade; nossa Identidade. 
O  patrimônio  cultural  é  um  componente  vital  de  todo  processo  civilizatório.  De  fato,  não  há desenvolvimento  cultural  sem o embasamento de experiências  já  realizadas;  sem  invenções artísticas  e sociais vinculadas à  tradição. Eruditas ou populares. Estas são as marcas da história e da  identidade de um grupo social. 
Os  objetos  representativos  dessas  experiências  e  invenções  são  os  elementos  tangíveis  dessa memória. Para cumprir o seu papel social, no entanto, esse acervo não pode se resumir à condição de um arquivo arqueológico à disposição dos estudiosos da história e da arte ou a ser oferecido, quando possível, à  fruição  do  público.  Não  pode  ser  visto,  em  suma,  apenas  num  sentido  mítico,  de  admiração  pelo passado. Os bens culturais tombados devem se integrar à vida de hoje. Eles participam, com sua carga de valores históricos, artísticos e sociais, da construção do nosso futuro. 
Nossa Constituição afirma que nosso patrimônio cultural é  integrado por bens matérias: Museus, Igrejas, obras de arte e documentos. E também pelos bens, ditos imateriais, aqueles que representam o conhecimento  e  o  saber  fazer  de  nosso  povo;  a  culinária;  a música,  a  literatura,  as  danças  e  festas populares; as técnicas e o conhecimento construtivo ao longo dos tempos. 
“Pra se entender/ Tem que se achar/ Que a vida não é só isso que se vê/ 
É um pouco mais/ Que os olhos não conseguem perceber/ E as mãos não ousam tocar” 
    Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho in Sei lá , Mangueira 
 Nesta visão moderna do patrimônio, ou nesta concepção do patrimônio como um dado integrante da modernidade, a participação da sociedade é fundamental e determinante.
Percebeu-se  que  a  partir  da  proteção  dos  núcleos  históricos  e  dos monumentos  integrantes  do contexto  urbano  é  possível  defender  a  qualidade  de  vida  nas  cidades  e  determinar  seu  crescimento harmonioso,  fundado  na  continuidade  da  tradição  e  da  identidade  local.  Percebeu-se  também  que  o conjunto de bens culturais forma um quadro em torno do qual se reforça essa identidade e se estabelece uma concepção solidária, embora diversificada, de objetivos comuns e modos autênticos e peculiares de expressões coletivas. O patrimônio é o tema em torno do qual as comunidades cultivam um sentimento de auto-estima e o exercício da cidadania.
Nossas  experiências  múltiplas  e  diversificadas  são  conteúdo  de  nossa  tradição  autêntica. Constituem parte da matéria com a qual vamos moldando, no presente, a construção do nosso futuro. É com esta memória ativa que temos de lidar no trato das questões do patrimônio.
Um fato referente ao crescimento do interesse pelo patrimônio e à preocupação com a identidade nacional é o envolvimento da coletividade na defesa de nossos bens culturais, através de ações  isoladas ou  comunitárias  e da  contribuição do poder  econômico. No período  entre  1995 e 1998 deu-se a maior importância a esse novo conceito. Adotou-se uma política que reconhecesse, favorecesse e incrementasse o envolvimento das  comunidades  transformando-o em participação efetiva. Consideramos esta questão, hoje, fundamental para a preservação e valorização do patrimônio cultural brasileiro.
Num país com a extensão territorial do Brasil e um largo acervo de bens tombados em expansão, é fundamental a descentralização das tarefas envolvendo os cuidados com o patrimônio. 0 desdobramento da preocupação e interesse com o tema do patrimônio pode ampliar esse encargo, multiplicando os bens a serem protegidos a partir de  óticas diferentes, mas  certamente  facilita as parcerias  e a  combinação de esforços.
Nosso  acervo  de  bens  tombados,  formado  a  partir  de  1938,  é  muito  rico  e  variado,  devendo crescer e se diversificar ainda mais. Ele inclui bens móveis e imóveis, bens naturais e sítios arqueológicos. Está  distribuído  por  todo  o  extenso  território  nacional,  nas  cidades mais  visitadas  ou  fora  dos  roteiros habituais. Muitas vezes em lugares remotos ou até de difícil acesso.
No caso do patrimônio edificado, é necessário integrá-lo ao contexto urbano, torná-lo ativo e vivo, através  do  uso  adequado.  Precisa  ser  restaurado, mantido  e  valorizado.  Para  tanto,  é  necessário  que esteja inserido no dinamismo da vida cultural, social e econômica de hoje.
Assim  como  nenhum  monumento,  nenhum  bem  do  patrimônio  edificado  pode  ser  visto isoladamente, fora do contexto urbano onde está situado. Na verdade, a sua presença se reflete sobre a totalidade do quadro, interage com a estrutura das cidades.
0  acervo  do  patrimônio  cultural  no  Brasil,  isto  é,  o  patrimônio  edificado,  as  cidades  e  sítios históricos, as obras de arte integradas aos monumentos ou espalhadas pelos museus, os bens imateriais, as paisagens e as marcas arqueológicas constituem um conjunto extremamente variado, disperso por todo o território nacional, sujeito a condições muitas vezes precárias de conservação em decorrência do clima, da sua localização em situação remota, em locais pobres e desassistidos. É um conjunto cuja característica impressionante é a fragilidade.
Nossas construções do passado, exceto os monumentos e casas das cidades mais importantes, são em geral de materiais precários, como a  taipa e a madeira,  raramente de alvenaria de pedras,  também sujeitas  à  agressão  do meio  tropical. Muitas  obras  da  produção  artística  do  período  barroco  estão  em igrejas localizadas em minúsculas cidades perdidas pelo interior do país.
O  lado  visível  disso  tudo  é  representado  pelas  obras  de  restauração  nos  grandes  centros,  as intervenções de vulto nos sítios históricos, as grandes exposições nos museus nacionais. Seu resultado é o surgimento da consciência social quanto à  importância da preservação e o envolvimento da comunidade nos cuidados com o patrimônio.
Para  lidar  com os  objetos do patrimônio  é  necessário  antes de  tudo  identificá-los,  classificá-los, contextualizá-los, conhecer as técnicas empregadas na sua execução, e as qualidades artísticas, culturais e históricas de que estão revestidos. Para  impedir a sua deterioração é preciso  intervir constantemente na sua conservação e fiscalizar as eventuais ameaças à sua integridade.
O  tombamento  atinge  claramente  um  objetivo  concreto,  sobre  o  qual  repousa  algum  especial atributo de valor histórico, artístico ou simbólico. Por meio dele se preserva, para o futuro, um testemunho da nossa identidade ou das nossas identidades.


DESAFIO DO BLOG: Essa imagem é o florão de um dos imóveis do Centro Histórico de Miracema. Quem adivinhar que imóvel é, ganhará um grande lampejo do vagalume.

4 comentários:

Anônimo disse...

Seria a Casa sobre a Locadora do Serginho Amim. Onde morava Helio Guterres.
Abraços, Larry.

AngelMira disse...

Caro amigo Larry:
Irei lhe responde, mas vamos aguardar mais opiniões.

Miguel Angelo Filho disse...

Vou arriscar, a CASA DA BEBEL, perto da prefeitura de Miracema.

Blog "O Vagalume" disse...

Recebemos essa mensagem por e-mail e divulgamos:
Amiga Angeline


Excelente a matéria Memória e Identidade.



No nosso último encontro em Paraíso do Tobias, a bronca da Rachel, foi não ter consiguido a lmpesa pública na área do mesmo.



Abraços, saúde e Paz de Cristo.

Luiz Carlos

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