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domingo, 1 de novembro de 2009

"VINTE ANOS DEPOIS"

Por Vítor Menezes


Eu ainda não poderia votar. Tinha 15 parcos anos. Mas militara com tanta intensidade que a minha ausência na urna poderia ser compensada pelo difícil trabalho de convencimento político. Devo ter conseguido uns votinhos. E devo ter, ainda que mínima, uma participaçãozinha na importância daquele primeiro instante de ousado enfrentamento dos preconceitos e desconfianças que pairavam sobre a candidatura de um certo sindicalista barbudo, especialmente em uma cidade conservadora como Campos.

Era novembro de 1989. Há exatos 20 anos, portanto. Em poucos dias se daria a primeira eleição direta para a Presidência do Brasil após a redemocratização. E eu, como tantos outros “companheiros”, como nos chamávamos, da Juventude Petista e do Movimento Estudantil – havia sido presidente do Grêmio da então ETFC (Escola Técnica Federal de Campos) – tínhamos a consciência de estar fazendo história.

Talvez este seja um dos maiores legados daquele PT: a ideia de que os trabalhadores, os cidadãos comuns, podem, sim, mudar o rumo dos acontecimentos. 

E o fazíamos com trabalho árduo, produzindo manualmente, por exemplo, o material de campanha no comitê da Rua Barão da Lagoa Dourada – onde hoje funciona uma escola –, mas também com muita festa, como a “Lulambada” e o “Rock Brasil Popular”.

As disputas entre as correntes, os debates, as longas reuniões, os ensinamentos dos mais experientes, tudo aquilo era incrivelmente estimulante. 

E havia o jingle da campanha, um dos mais bonitos de todas as disputas eleitorais recentes, que deve emocionar muita gente até hoje: “Passa o tempo e tanta gente a trabalhar, de repente essa clareza pra notar, quem sempre foi sincero e confiar, sem medo de ser feliz, quero ver chegar, Lula Lá, brilha uma estrela, Lula Lá, cresce a esperança, Lula Lá, num Brasil criança, na alegria de se abraçar...”.

Outro jingle que emocionava era o de Roberto Freire (PCB) – “Salve o povo brasileiro, salve a paz nesse País, com Roberto presidente o povo vai ser mais feliz”. E havia figuras como Mário Covas, Fernando Gabeira, Ulysses Guimarães, Paulo Maluf, Guilherme Afif – do coreografado “juntos chegaremos lá” –, Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado e até uma inacreditável candidatura relâmpago de Silvio Santos, além da estreia gritante de Enéas Carneiro. O leque era de tal modo amplo e democrático que 22 candidaturas estavam à disposição do eleitor.

A disputa nos campos de esquerda era tão apertada que no dia 14 de novembro, véspera do primeiro turno das eleições, o Datafolha apontava 15% das intenções de votos para Lula e 14% para Brizola. Collor estava folgado na frente com 26%.

E o inacreditável aconteceu: por diferença apertada de votos – 11.622.673 (16,08%) a 11.168.228 (15,45%) –, Lula, do temido PT, tomou o segundo lugar do lendário, e não menos temido, Leonel Brizola, do PDT, e foi para o segundo turno com Fernando Collor de Melo (PRN), que obteve 20.611.011 votos (28,53%), e viria a ser o presidente que o País se arrependeria de ter eleito.

Hoje, falar em militância lembra vinculações não muito saudáveis. Embora continue sendo vital para a democracia o envolvimento dos jovens na política, dificilmente se repetirá aquela pureza de propósitos e de convicção ideológica. Ou esse é apenas um papo típico de quem não é mais tão jovem? 

Seja como for, segue a memória. E a esperança.

[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]

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