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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

ALAGAMENTOS URBANOS


Enchente em Laje do Muriaé, 2008


Dias atrás, escrevi uma postagem intitulada "Até quando?", onde me perguntava e também transmitia essa pergunta a vocês: até quando iremos ficar nessa de "apagar incêndios"? Deparei-me com esse artigo de alguém que entende do tema e decidi divulgar. Afinal, meu "até quando?" era bem de cidadã comum, que não sabe a resposta, mas busca quem sabe...

Artigo de Osvaldo Ferreira Valente - Portal Ecodebate - 17/12/2009

Enquanto continuamos concentrados no aquecimento global, na preservação da floresta amazônica, na reformulação do Código Florestal, na polêmica da reserva legal nas áreas rurais, tudo importante para o futuro, é claro, vivemos as agruras do presente em cidades assoberbadas pelos desastres provocados por fenômenos naturais. E chuvas que já aconteceram muitas vezes, ao longo do tempo, e não provocavam nenhum dano, hoje são catastróficas.

A resposta é bem simples e conhecida de todos nós urbanos: está na ocupação dos leitos maiores dos cursos d’água, no avanço das construções pelas encostas íngremes, na impermeabilização do solo por ruas e avenidas asfaltadas, nos terreiros cimentados e na drenagem dos telhados por calhas que são canalizadas diretamente para as ruas. Tudo isso nós sabemos e as autoridades, também.. O que fazer, então? O que vou sugerir é muito simples, sendo muito mais uma questão de logística do que de tecnologias de conservação.

Em primeiro lugar, há de se fazer um trabalho permanente de conscientização da população quanto ao comportamento ambiental dos núcleos urbanos. 

Não falo de programas aleatórios que surgem durante e logo após desastres como os vivido recentemente por Belo Horizonte e outros núcleos urbanos pelo país a fora. Falo de trabalho cotidiano junto às comunidades, com cartilhas, mensagens, reuniões com pais e mães nas escolas, com trabalhadores nas empresas, com vendedores ambulantes e tantos outros. Falo da inclusão de alunos nas discussões, mas sem viés emotivo, muito a gosto dos ambientalistas. Falo em mostrar as realidades cruas e nuas, mas com indicação de causas e demonstrações dos efeitos interativos homem/natureza. Falo, em resumo, de trabalho sistemático de instituições públicas e da sociedade organizada, feito durante todo o ano e ao longo dos anos, pois haverá sempre um novo ângulo a ser atacado, pela própria dinâmica das cidades.

Em segundo lugar, há de se buscar a participação de especialistas em áreas como geologia, hidrologia, saneamento, urbanismo e arquitetura, engenharia civil, sociologia e comunicação, desvinculados de interesses corporativos ou empresariais, para, em conjunto, indicarem alternativas apropriadas para as diversas situações. Posso citar, com relação aos alagamentos em Belo Horizonte, por exemplo, uma ampla discussão sobre a eficiência de pequenos reservatórios domésticos para captação de águas de chuvas, de reservatórios maiores em prédios e condomínios, de valas de infiltração, de tubulações de drenagem com fundos porosos etc.
Muitos poderão dizer que as prefeituras já contam com tais grupos de especialistas, mas eu digo que não, pois nelas ainda predominam os projetos encomendados de empresas que tendem a puxar as brasas para suas sardinhas e acabam sugerindo grandes obras de engenharia, nem sempre eficientes, mas certamente lucrativas. As decisões precisam ser avalizadas por comunidades científicas independentes e tomadas após discussão com as sociedades envolvidas, através de suas entidades representativas. Não devemos nos esquecer, nunca, que os dirigentes municipais não passam de empregados das respectivas sociedades.

Em terceiro lugar, os espaços urbanos precisam ser zoneados, ter as áreas de risco delimitadas, ter programas de adequação construção/ambiente e outros de realocação populacional. Depois disso, as autoridades municipais precisam exercer seus poderes de polícias administrativas para garantirem a execução e a manutenção do planejado. Compete também às populações, bem esclarecidas pelas campanhas já mencionadas, descartarem os dirigentes inoperantes e buscarem novos, não deixando que as paixões partidárias prevaleçam sobre as necessidades de se ter cidades civilizadas.
Se estas aparentes utopias de hoje não caminharem para realidades próximas, os nossos núcleos urbanos, principalmente os representados por metrópoles como Belo horizonte, vão se tornar cada vez piores. São procedimentos simples, até óbvios e elementares, mas que inexplicavelmente não são adotados no dia a dia. Por que será? Faça você uma reflexão e decida mudar de atitude para colaborar na criação de novas concepções e novos procedimentos gerenciais urbanos.

Osvaldo Ferreira Valente, Professor titular aposentado da UFV e especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas

* Colaboração de Osvaldo Ferreira Valente para o EcoDebate, 17/12/2009 - extraído do Blog SOS Rios do Brasil.

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