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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

As eleições 2010 sem Aécio

O governador mineiro Aécio Neves acaba de anunciar sua desistência à sucessão de Lula. Deixa o governador José Serra com esta tarefa, isolado na sua solidão notívaga. Que ponderações podemos fazer ou projetar a partir desta novidade?

1) Que Aécio Neves preparou esta desistência com requinte dos Neves, deixando o governador paulista numa situação constrangedora. Primeiro, porque conseguiu firmar a imagem de que Serra é indeciso ou extremamente egoísta. Segundo, porque os mineiros sabem que o algoz de Aécio foi o governador paulista, o que diminui em muito o espaço de Serra numa possível sucessão presidencial;

2) Aécio teria um perfil muito mais amplo que Serra na disputa contra o lulismo. Por vários motivos. É jovem e não-paulista. Os paulistas são cada vez mais considerados o obstáculo para uma espécie de acordo nacional, pela agressividade extrema e fome de poder. Aécio vinha trabalhando com cuidado a imagem de político não-paulisa. Se aproximou de Ciro Gomes (o prefeito de Belo Horizonte, apoiado por Aécio Neves, foi assessor do então ministro Ciro) e do prefeito petista Fernando Pimentel. Construiu-se como ponte e conciliador do país;

3) Serra, ao contrário, é sisudo em demasia e já foi candidato derrotado. Aécio poderia perder para Dilma que não seria um desastre: seriam dois novatos nesta disputa. Mas Serra perder para Dilma significará o início de seu ocaso: terá perdido para uma novata ou perderá mais uma vez para Lula;

4) Serra vinha caindo lentamente nas pesquisas de intenção de votos. O que, por estar tanto tempo no topo das pesquisas, parece natural. Mas a situação fica mais difícil na medida em que Dilma Rousseff sobe lentamente nas mesmas pesquisas. Dilma, neste momento, disputa com Ciro Gomes. Não é possível ter a dimensão do que poderá ocorrer com a desistência de Aécio Neves, mas dificilmente provocará inflexão positiva no perfil da candidatura de Serra. Podemos, assim, ter uma disputa embolada entre três candidatos (Serra, Dilma e Ciro);

5) Por seu turno, Aécio será eleito com facilidade como senador por Minas Gerais. E poderá armar seus próximos passos. O melhor dos cenários seria a derrota de Serra, abrindo espaço para a construção do líder mais importante da oposição. Poderá, inclusive, ser o artífice da aproximação do PT com o PSDB não-paulista (com o cenário da derrota de Serra, os tucanos paulistas amargariam uma pequena crise), tentativa já esboçada nas eleições da capital mineira. Enfim, o governador mineiro terá várias opções para tocar sua carreira política;

6) Em Minas Gerais, Aécio poderá ser artífice de uma aliança importante, entre PT, PSDB e PMDB. Lembremos que o governador mineiro, em suas duas gestões, cristianizou praticamente todas candidaturas tucanas ou aliados, de João Leite à Geraldo Alckmin. Não seria novidade, portanto, se jogasse para o futuro, para seu futuro, coordenando uma ampla aliança entre os 3 maiores partidos nacionais.

Enfim, a candidatura de Aécio caiu para cima. Joga com o tempo. E demonstrou uma habilidade de gente grande. Algo que Serra demonstrou não ter: tempo e habilidade.

Um comentário:

JUNINHO disse...

A impressão é a de que Aécio sai de cabeça erguida e cheio de gás e Serra realmente constrangido. Parece que será difícil para o PSDB fugir da eleição plesbicitária a partir de agora, como deseja o PT.

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