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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

VARRE-SAI: "SAGA DA FAMÍLIA TUPINI"

Orlando Tupini, pai de Orlando, Maria e Maria Mindó, em Varre-Sai, em foto de 1968

Meu pai hoje completou 86 anos e recebeu um presente inesperado e que proporcionou a ele muita alegria. No início da noite, recebeu uma ligação originada em Bom Jesus do Itabapoana, noroeste fluminense, de um amigo de juventude, que serviu o Tiro de Guerra com ele em Miracema, tendo inclusive morado na mesma pensão que ele e o primo Luiz Fernando Monteiro Linhares, em Niterói. O amigo é Orlando Tupini.

Curiosamente, pesquisei o nome do amigo do meu pai nas redes sociais e me deparo com essa bela historieta, da diáspora dos italianos Tupini, no noroeste fluminense, que compartilho com os leitores vagalumes.


A SAGA DA FAMÍLIA TUPINI

Os avós italianos de Orlando Tupini, Giuseppe Toppini e Enrica Moscaroli Tupini, viajaram no Vapor Colombo, desde a Itália até o porto do Rio de Janeiro, chegando ao Brasil no dia 3 de abril de 1896.
Giuseppe relatava que, durante a viagem ao Brasil, os italianos se dedicavam a entoar canções de esperança, como a seguinte:

"Noi, italiani lavoratori,
Allegri andiamo nel Brasile
E voi altri, d'Italia signore
Lavoratelo il vostro badile
Se volete mangiare"

Segundo informa Orlando, "alguns italianos foram para Minas Gerais. Meus avós, contudo, foram até o Porto de Santos, permanecendo em São Paulo por cerca de um ano. Posteriormente, um emissário de Varre-Sai (RJ) foi a São Paulo contratar italianos para trabalharem na plantação de café. Meu avô concordou com a proposta e veio trabalhar na Fazenda Paraíso, de propriedade dos antepassados de minha esposa Margessi".

Os imigrantes vieram de trem para a região Noroeste Fluminense, onde havia uma estação em Natividade (RJ). A partir daí se deslocaram para Varre-Sai a pé, em lombo de burros ou mesmo em carros de boi.

Certidão de Giuseppe Topini, avô de Orlando Tupini.


Giuseppe Tuppini fixou-se, em primeiro lugar, na região da Cruz da Ana, exercendo as atividades de ferreiro e lavrador.

Apaixonado por música e por sanfona, Giuseppe Tupini fundou a banda de música Lira Santa Cecília de Varre-Sai.

Enrica Moscaroli faleceu em Varre-Sai no dia 19 de maio de 1953, com 88 anos de idade, enquanto Giuseppe Tupini faleceu no dia 21 de fevereiro de 1965, com 97 anos, em Varre-Sai. Deixaram os filhos Marieta, Orlando, Candido, Assunta, Sladino e Norival.

Filho de Orlando Tupini e Adalgisa Machado Tupini, a genitora de Orlando possui origem portuguesa e puri.

Orlando diz que "meu pai nasceu em 1898 e casou-se com minha mãe em 1920. Aos 19 anos de idade integrou a primeira composição da Lira Santa Cecília, de Varre-Sai. Em Comendador Venâncio, onde trabalhou no IBC, antigo departamento de café, lecionou música para o maestro José Carlos Ligiero que, posteriormente, lhe dedicou um dobrado. Nesse distrito, ensinou música para cerca de 36 alunos. Ele faleceu em 1969. Mamãe foi uma mulher trabalhadora que lutou muito para criar treze filhos. Os nomes dos meus irmãos são: Hélio, José Silveira, Lino, Antônio, Carolina, Cecília, Luís, Maria, Helena, Cecília, Lúcia e Ronaldo. Minha mãe morreu jovem, no dia 10 de março de 1949. A sede da banda de música de Comendador Venâncio tem o nome de meu pai e, em Varre-Sai, foram dados nomes de ruas em homenagem ao meu avô e a meus pais", assinala.

Deixemos que Orlando continue falando de si:

"Nasci no dia 29/03/1937, em Natividade (RJ). Depois, com 4 anos de idade, fui para Comendador Venâncio, onde morei por 8 anos. No dia 25 de maio de 1949, fui para Varre-Sai (RJ), onde concluí o curso primário. Em 1951, estudei no internato do Ginásio Natividade. Em 1954, fui para Miracema (RJ), onde, em 5 anos, concluí o ginásio, fiz o curso científico e o técnico em contabilidade. Em janeiro de 1959. fui para o Rio de Janeiro. Após três meses, fui contratado para trabalhar na Cia. Fábio Bastos, pertencente a uma família de Comendador Venâncio.

Depois de 7 meses, prestei concurso para o Banco Português do Brasil, localizado na Candelária, no. 24, onde ingressei no dia 3 de novembro de 1959.

Em seguida, fui trabalhar na filial do referido banco em Niterói, na rua Visconde do Uruguai. Neste período, eu morava em uma república com seis quartos na rua Passos da Pátria, 133. Meu colega de quarto foi Luís Fernando Linhares que, depois, tornou-se deputado e faleceu em acidente de carro.

Posteriormente, fiquei noivo e fiz concurso para o Banco Predial. Fui aprovado e passei a trabalhar em Varre-Sai no dia 18 de novembro de 1963. Ali casei-me com Margessi Teixeira Tupini", assinala.

Orlando Tupini e a esposa Margessi, construíram como os antepassados a Terra Prometida.

Tiveram três filhos: Mônica, Renata e Luís Orlando e três netos: Isabella, Gustavo e Fernando.

Prossegue Orlando:

"Com o fechamento do banco em 1975, utilizei a verba indenizatória para estabelecer em sociedade uma quitanda, um restaurante, uma padaria e um clube, na parte de cima do prédio.

No dia 24 de junho de 1975, a sociedade foi desfeita e, com a parte que me coube, estabeleci uma lanchonete, localizada onde está atualmente a Câmara dos Vereadores. Este comércio durou cerca de um ano e oito meses. Em outubro de 1976, passei para um concurso de datilografia no antigo INPS, em Bom Jesus do Itabapoana. Entre 836 inscritos para 3 vagas, ocupei o 3o. lugar. Comecei a trabalhar no dia 21 de julho de 1977.

Em dezembro de 1977, fiz vestibular para cursar Direito, na Faculdade de Cachoeiro de Itapemirim (ES). Fiquei em 15o. lugar, a melhor colocação da região. Quando eu cursava o 3o. ano de Direito, realizei uns 'bicos' no escritório de contabilidade de Luciano Nunes, por cerca de 3 anos. Esta experiência foi muito importante na minha vida profissional. Colei grau em 18 de dezembro de 1982.

Em março de 1980, eu e minha esposa passamos a morar na casa construída em Bom Jesus do Itabapoana, com o financiamento da Caixa Econômica, em terreno doado pelo tio de minha esposa, Carlos Barbosa".

Orlando assinalou, ainda, que "vejo a vinda de meus avós italianos ao Brasil como algo notável, pois vieram reconstruir suas vidas. Na época, o rei Victor Emanuel estimulava a imigração italiana, uma vez que a Itália passava por um período de severas dificuldades econômicas. Muitos italianos que aqui chegaram, contudo, retornaram à Itália, pois não conseguiram se adaptar à vida em um mundo diferente e, além disso, trabalhando na lavoura".

Orlando finaliza: " O noticiário só nos mostra violência e corrupção. Vivemos um regime de instabilidade e de anarquia. Antigamente havia disciplina na rede social. Vejo o futuro da juventude com muita preocupação ".

A saga da família Tupini, juntamente com a de inúmeras famílias italianas que vieram para o Brasil, resultou na constituição de uma comunidade que, enfrentando e superando os árduos desafios, se sente continuadora dos mesmos ideais que seus antepassados, quando deixaram o solo italiano: construir a Terra Prometida.

Disponível no perfil "Só Natividade Tem", facebook, acesso aqui.

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