Nesta hora peço permissão a Caetano e inspiração a Deus para descrever o que sinto com o horror no Haiti. É impossível não se prostrar perante a diminuta inabilidade humana, ante a legítima incapacidade de reação dos haitianos, diante da incompetência dos homens do mundo, que conhecem a fragilidade, a vulnerabilidade dos “outros” e nada fazem, afinal “eles” ou “aqueles lá” estão tão distantes quando ponderamos ajuda eficaz, aquela que cria condições dignas de vida, porém aumentamos o zoom quando se fala em ajuda humanitária, doação de grana, depois do desastre. Como pode?
Agora inverto o meu pedido e solicito permissão a Deus para questionar os seus filhos, meus irmãos, e inspiração poética a Caetano para fazer estes questionamentos de maneira que não pareça ofensiva ou arrogante, porque faço parte deste mundo, sou filha, irmã e me sinto inábil, incapaz, incompetente. O que fazer?
Estarrecida, recuo o zoom e faço um link com a realidade que me cerca e me certifico que o poeta estava movido por um verdadeiro senso de localidade, quando cantou que “o Haiti é aqui”, pois traço um paralelo e afirmo, guardando as devidas proporções, que o Noroeste Fluminense está para o Estado do Rio de Janeiro assim como o Haiti está para o mundo, sem autopiedade. Todos conhecem as nossas fragilidades, nossas vulnerabilidades, nossa pobreza e nada fazem, afinal estamos tão distantes, nosso acesso é difícil, estradas horríveis e quando os corriqueiros, digo, anuais desastres nos assolam, ficamos na mídia por uns poucos dias, rola alguma ajuda humanitária e grana mesmo, que é necessária, nenhuma. Vivemos como no Haiti, acumulando um déficit, que vai contra qualquer programa de governo que prima pela diminuição da desigualdade social, econômica e ambiental.
E, por falar nela, na desigualdade, podemos dizer que tem começo na distribuição desigual de recursos do governo, onde os que são menos recebem menos, para continuar sendo menos. Este é o nosso fardo? Sermos eternamente menos? Pobres em recursos ambientais, econômicos e sociais? Quando nos será permitido o tão sonhado “desenvolvimento”? Sem essa de ter que ficar pedindo dinheiro com um pires em uma mão e um projeto que nunca passa na outra.
O Noroeste Fluminense, assim como o Haiti e outras localidades reconhecidamente pobres, vulneráveis do mundo, deveria ter um aporte de recursos garantido para que tenha plenitude de ação e consiga preparar seu povo para dar resposta quando necessário, pois ninguém está livre da força inigualável da natureza que, ao agir, não distingue pobres, ricos ou intermediários. O que se reconhece nos momentos difíceis são os mais bem preparados, os mais bem adaptados às adversidades. E estes somos nós, os pobres do mundo que, acredita Darwin, sobreviveremos!
*Por Juliana Ribeiro Rodrigues, bióloga, especialista em Direito Ambiental e servidora municipal em Miracema-RJ atuando junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agropecuário.
"A vulnerabilidade é maior nas sub-bacias que predominam na região Noroeste, a mais carente do Estado, com degradação de pastagens, economia estagnada e evasão rural. " Fonte: CASTRO DA COSTA, Thomaz C. et al. Um indicador de vulnerabilidade para sub-bacias hidrográficas.
Um comentário:
Juliana, seu desabafo " O Haiti é aqui no Noroeste Fluminense " me emocionou, pois veio de encontro à minha luta por nossa Miracema há alguns anos, mas via INTERNET, DIRETAMENTE COM A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, CONGRESSO, MINISTÉRIOS, ÓRGÃOS LIGADOS À SAÚDE, TRANSPORTES, EDUCAÇÃO..., GOVERNADORES, SECRETARIAS ESTADUAIS E MUNICIPAIS, PREFEITURA, CAMARA DE VEREADORES, CNA, FNA, SNA, EMATER ETC.... já se vão cinco anos.
Ainda NÃO DESISTI, mas já CONSTATEI ONDE ESTÁ A MAIOR DIFICULDADE PARA NOSSA MIRACEMA e prefiro guardá-la comigo, pelo menos por enquanto, depois da minha última conversa com o Secretário Municipal de " AGROPECUÁRIA " ( ? ) e o modo como me tratou e trata TODOS NÓS PRODUTORES RURAIS.
Então, Juliana, o Haiti continuará sendo em Miracema, pois CONVÉM a poucos, mas que os muitos ANÔNIMOS aceitam e só dizem que tres anos passam rápido... Que CIDADANIA! Que DEMOCRACIA vive-se em nossa querida Miracema!
Dar o PEIXE NA BOCA, CASAS POPULARES, RETIRAR AS ESCOLAS DA ZONA RURAL, ESVAZIANDO O CAMPO e deixando-o sem ESTRADAS E O MÍNIMO DE RECURSOS PARA SE VIVER E PRODUZIR...dá mais IBOPE=VOTOS.
Esta ainda é a política brasileira, da época dos CORONÉIS: HAITI!
Abraços e Força para não desistir, pois é muito nova e ainda tem muito caminho pela frente,
Rachel Bruno Siqueira
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