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terça-feira, 30 de março de 2010

Como se faz uma campanha, por Rudá Ricci

Coordenei algumas campanhas políticas, de prefeitos, deputados estaduais, governador, presidente da República. A última pesquisa DATAFOLHA aumentou a fervura da disputa e percebo, nos comentários de vários internautas pelos blogs afora, que as paixões parecem abandonar de vez um mínimo de racionalidade. Esta nota é para socializar minha experiência em coordenações de campanha. Espero ajudar a compreender uma das ações mais calculadas e profissionais do país:
1) Desde os anos 90, campanha política é coisa de profissional, baseada em pesquisas qualitativas (grupos focais, em especial). Nenhum candidato fala, se veste, define agenda sem leitura atenta dos fatos para saber de que lado o vento vem;
2) Neste momento, qualquer candidato a Presidente da República já tem seu staff montado. Será agregado após as convenções de junho. Mas já se reunem e definem cada passo, cada frase, cada gesto. Alguns candidatos seguem cegamente estas orientações (parece que Dilma Rousseff segue este rumo), outros, resistem (parece que José Serra é expoente desta vertente);
3) Campanha de Presidente da República não gastará menos que 500 milhões de reais. Obviamente que este gasto exigirá retorno. Alguns, altruístas. Outros, nem tanto;
4) Neste momento, há algumas frentes básicas a serem perseguidas por cada campanha (que já estão com bloco na rua, que ninguém tenha dúvida disto): a) preparar os palanques regionais (alianças e chapas); b) definir os cálculos e orçamentos básicos da campanha; c) definir as referências regionais; d) elaborar todo cronograma de campanha, em fases, definindo fatos políticos até a Copa do Mundo; e) definir o posicionamento discursivo da candidatura (neste momento, totalmente voltado para os militantes e base aliada) e os pontos frágeis do adversário;
5) As campanhas devem estar sendo pensadas para programar ações de abril a junho (mês das convenções partidárias); interregno em função da Copa do Mundo; fase de programação de televisão; ataque frontal; fatos políticos que indiquem apoios e debilidade do adversário na reta final.

Neste momento, Dilma e Serra possuem vantagens e desvantagens que devem estar pesando no cálculo de campanha.
Serra possui o centro-sul ideologicamente a seu favor. Tem experiência administrativa e recall. Mas é por demais paulistano e muito cauteloso. Demorou para se expor como candidato, embora todos soubessem. E tem em Minas Gerais sua pedra no sapato (Estado que, possivelmente, decidirá a eleição de outubro).
Dilma possui o nordeste a seu favor e é a candidata de Lula, o Presidente com popularidade em alta. Mas não tem carisma, nem experiência. E possui uma imagem muito próxima de Serra (carrancuda, técnica, professoral, racional em demasia, impessoal). Sua imagem não cola à de Lula com facilidade e terá que se construir a partir de agosto, quando estará na TV e nos programas de debate sem seu padrinho ao lado o tempo todo.
Em termos pessoais, a campanha é um tudo ou nada para Dilma ou Serra. Dilma poderá iniciar sua trajetória política ou será uma eterna nascitura. Serra poderá virar um Fênix ou entrar em seu ocaso político. Os dois lutarão com tudo o que podem, independente do que seu staff planejar.
Por tudo, as campanhas já estão nas ruas. Seria ingenuidade acreditar em algo diferente.

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