Aí está mais uma prova de onde a irracionalidade humana pode nos levar diante do desrespeito à natureza. É plenamente conhecido de longo tempo o regime de chuvas no Rio de Janeiro, assim como a sua topografia e, portanto, as possibilidades de escoamento das águas caídas. Ninguém pode desconhecer a importância das marés para isto.
Teve o Rio de Janeiro recursos naturais que aliviavam as situações mais desfavoráveis, através de lagos, lagoas, alagados, charcos, mangues etc, que retinham águas das chuvas. A infiltração através do solo era favorecida através da vegetação e da sua permeabilidade, evitando a erosão, e consequentemente, o entupimento dos cursos d´água.
Estes acidentes naturais foram pura e simplesmente eliminados em nome do progresso e até da salubridade, mas certamente muito mais da exploração da urbanização. Com isto se acelerou o volume e a velocidade de águas a escoar, provocando desmoronamentos, entulhamentos das partes baixas e falta de reservatórios aos excessos fluviais.
Nunca se encarou o esgoto pluvial com a sua devida importância. Foi sempre tratado como secundário e pontual. Fica-se somente nos quebra-galhos. O descaso é tal que vias urbanas laterais a cursos d´água ficam inundadas com o nível deles bem inferior ao delas.
Outrossim ainda não se entendeu a necessidade de serviços de alerta à população e planos de emergência para tais situações, embora existam serviços que permitam prevê-las.
Informam os órgãos de meteorologia que as chuvas caídas foram previstas e certamente se conhecia a previsão das marés. E o que se fez? Deixou-se tudo correr como se nenhuma anormalidade fosse previsível. Depois que a casa caiu corre-se desorientadamente daqui para ali e teve-se o caos total contra o qual pouco restou a fazer.
A Praça da Bandeira como ponto obrigatório de passagem das águas precipitadas na imensa bacia hidrográfica da Grande Tijuca e seu baixo desnível em relação às aguas do mar, é um local antigo e tradicional de enchentes do Rio, com graves consequências ao trânsito urbano, principalmente de e para a Zona Norte. Obras salvadoras foram lá realizadas com muita pompa mas apenas atenuaram os problemas, como se acaba de ver.
As imagens da Leopoldina - Barão de Mauá deixam bem claro que o Canal do Mangue teria transbordado, certamente muito mais devido à maré.
Por quase toda a cidade, mesmo após o arrefecimento das chuvas vias alagadas e que até pareciam rios, numa prova evidente de incapacidade ao esgotamento subterrâneo, que já deveria ter sido bastante à drenagem das mesmas. A solução encontrada foi pedir a população para ficar em seus abrigos. Nem os ônibus conseguiam circular normalmente, pelo menos, até às 10 h.
Quando se vai encarar o problema no Rio de forma global e com a melhor tecnologia disponível? Sabe-se que importantes áreas no mundo abaixo do nível dos mares são ocupadas regularmente pelo humano.
Isto vale para São Paulo e outras áreas urbanas do Brasil.
Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória
Um comentário:
Luiz Carlos nos enviou por e-mail:
Amiga Angeline
Muito obrigado pela transcrição de nossas observações a respeito da tempestade que vem da atingir o Rio e sua área metropolitana.
Ficou bem comprovada a falta de preparo de nossas autoridades públicas à uma contingência como esta, embora tentem ocultar o sol com a peneira.
Ainda ontem enquanto uma TV chegou a um deslizamento, com possibilidades de vítimas humanas, nenhuma autoridade lá chegara e o povo improvisava resgate, sem conhecimento e nem recursos para isto. Faltou gente e/ou outros recursos a tal atendimento ou foi descaso mesmo? Obviamente, em uma tal emergência, quando não se tem recursos próprios a atender se apela às forças armadas, aos recursos de outras jurisdições e até do exterior, à iniciativa privada etc. Afinal não estamos no Haiti.
No deslizamento monstruoso que ocorreu a noite passada em Niteroi as reportagens comprovam:
1) a TV lá chegou bem antes do que as autoridades;
2) não se dispõe se quer de um levantamento confiável das áreas de risco, pois esta área era ignorada;
3) só por suas condições naturais, um vale estreito, fundo e de grande declividade, ocupado irracionalmente com mais de 50 edificações, inclusive creche e igreja, não podia estar desconsiderada;
4) pior, ainda, se tratava de um aterro sanitário estabelecido sem os mínimos cuidados indispensáveis e sem controle algum, do que só se deu conta com a ocorrência. Consequente o corpo-de-bombeiros não contava com isto e estava despreparado ao atendimento, efetuando-o sem a devida avaliação dos riscos que corria.
É preciso mais para comprovar o despreparo das autoridades públicas?
Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória.
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