Arquivo VAGALUME

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"O PROBLEMA É MAIS POLÍTICO DO QUE TÉCNICO"

Bombeiros retiram corpo de vítima de deslizamento no morro do Bumba, em Niterói, região metropolitana do Rio/ da Folha de São Paulo

Recebemos há pouco um comentário do engenheiro Luiz Carlos Martins Pinheiro, que é o coordenador da obra literária "Logradouros de Miracema", leitor vagalume e morador do Rio de Janeiro há longos anos. Luiz Carlos comentou ao final o título dessa postagem. Utilizamos sua palavra para dar título à postagem e vamos mostrar o porquê de concordarmos com a afirmação destacando trechos de jornais.
Niterói abriga uma das maiores universidades federais brasileiras e não acreditávamos, desde o início, de que os técnicos e especialistas haviam sido omissos. E não foram:

- Prefeitura de Niterói sabia do risco em 90% dos pontos que desabaram na cidade

A prefeitura de Niterói foi avisada há seis anos sobre o risco de deslizamento de terra, não apenas no Morro do Bumba, onde cerca de 200 pessoas podem estar soterradas, mas em 90% dos pontos que desabaram na cidade. 
Estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) que mapeou aspectos geológicos e condições do solo foram entregues em 2004 à prefeitura na gestão do então prefeito Godofredo Pinto. "Os governantes já sabiam que essa tragédia em Niterói poderia acontecer. Não sabiamos quando, mas mostramos onde poderia acontecer", disse o geólogo Adalberto da Silva, um dos autores do estudo.
Caramujo, Cubango, Fonseca, Largo da Batalha, São Francisco, Pendotiba, Santa Rosa são os bairros mais afetados pela chuva na cidade. Pelo menos 30 comunidades foram atingidas por deslizamentos. Niterói já registra mais de 110 mortos.
"Do total de áreas que sofreram deslizamento, em 90% delas avisamos que corriam risco. Inclusive o Morro do Bumba", contou o especialista.  
Silva relatou que a área, que já foi um lixão, não passou por drenagens. "Mesmo com obras de drenagem seria arriscado construir e manter residências no terreno que já foi um lixão. Imagine sem essas obras"
Segundo o especialista, a combinação de água em excesso e gás metano, originário da decomposição do lixo, foi fatal, numa área onde o solo já era vulnerável por ter abrigado um aterro sanitário.
O pesquisador incluiu o Morro do Bumba como área de risco mesmo sem ter sido informado pela Prefeitura que a área já tinha abrigado um lixão.
O prefeito Jorge Roberto da Silveira (PDT), que decretou estado de calamidade pública na cidade, afirmou que "não sabia desse risco todo. Vamos tentar convencê-los de que eles têm que sair de lá".  


- Autoridades locais sabiam dos riscos no Morro do Bumba

As autoridades municipais de Niterói haviam sido alertadas por pelo menos dois estudos da Universidade Federal Fluminense (UFF) sobre o risco apresentado pela ocupação irregular no Morro do Bumba em Niterói, no entanto, nenhuma medida concreta foi adotada com base nas recomendações apresentadas. Regina Bienenstein, coordenadora do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (Nephu) da UFF, foi autora de um desses projetos.
Em um trabalho encomendado pela gestão anterior da prefeitura de Niterói, ela esteve no local em março de 2004. Já haviam ocorrido desabamentos e a prefeitura, ciente da ocupação irregular no antigo lixão, queria ter um diagnóstico mais claro do problema e definir que projetos seriam necessário àquela área.
"A situação de risco estava clara. Parte dos 400 moradores estavam em cima do antigo lixão. As autoridades sabiam", disse à BBC Brasil.
O projeto de 2004 recomendava uma série de medidas, entre elas o remanejamento das famílias que ocupavam o lixão para uma área adjacente que não corria risco de deslizamentos. "Era possível acomodá-las dentro do próprio assentamento (...) Não houve resposta ao meu projeto. Houve a eleição, o comando dos órgãos mudou e isso ficou esquecido", acrescentou.
Em declarações à imprensa, o atual prefeito de Niterói admitiu saber que havia uma comunidade construída em cima do lixão, mas alegou não ter conhecimento do risco.
Além do projeto do núcleo coordenado pela especialista, outro estudo de 2004, do Instituto de Geociência da UFF, constatou que a área do Morro do Bumba era de alto risco.

Fonte: ÚLTIMO SEGUNDO

Para lerem um pouco mais sugerimos esse artigo:  "O imprevisível mais do que previsível", do Blog do Noblat.

Um comentário:

AngelMira disse...

Esse comentário gerou essa postagem:


É realmente estarrecedora a irresponsabilidade que perdura no trato da coisa pública brasileira.



Como se não bastasse os escândalos oficiais o caos predomina até na segurança que diz respeito à moradia da imensa população carente.



Acabamos de voltar a ver e ouvir pela TV a resposta tranquila do prefeito de Niterói à pergunta se sabia do lixão: disse que desde o seu mandato anterior, quando se iniciou a ocupação residencial da área, mas que fora informado de que seria segura. Acrescentou ser inviável que se possa fazer numerosa remoção e os que isto defendem só querem denegrir.



A história a respeito começa a aparecer com estes e outros fatos. Diz-se que o lixão funcionou de 1950 a 1980, dando início à ocupação conforme um dos primeiros moradores. Alguns deles sabiam dele, outros não.



Um declarou que fora para lá, mediante troca que a Prefeitura lhe fez de sua casa, onde ela construiu uma escola.



Parece que até mesmo o admirado corpo de bombeiro está meio perdido. Ainda não teria feito uma devida varredura dos locais de possíveis resgates.



A TV mostrou esta tarde, bem no alto, dois homens e uma mulher fazendo escavações onde acreditam possam se encontrar diversos parentes, esclarecendo que, ainda, ainda, nenhum socorro lá chegara.



Um professor universitário declarou ter apresentado um estudo em 2002, concluindo pela insegurança do local.



Declarantes informaram que entre as vítimas se encontram pessoas atingidas num deslizamento anterior e que foram abrigadas por residentes mais abaixo.



Efetivamente se impõe uma apuração independente do poder público, por representantes de entidades respeitáveis tecnicamente envolvidas, como CREA, OAB, das áreas de geologia, pluviometria, mecânica dos solos, aterros sanitários etc, com vista a identificar as reais causas da tragédia, sem se preocupar muito com a identificação das pessoas responsáveis por elas.



Só assim pode-se sair do bla-bla-bla da comunicação e da política e se chegar a normas técnicas capazes de evitar que o fato se repita.



É princípio elementar à segurança em qualquer atividade humana.



Não resolverá toda a situação, pois as causas da mesma são muio mais políticas do que ténicas.



Abraços, saúde, bom fim de semana e Paz de Cristo.

Luiz Carlos/MPmemória

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