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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Os políticos ficaram chatos

POR Rudá Ricci
Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, diretor geral do Instituto Cultiva
(www.tvcultiva.com.br).

Resolvi escrever este artigo no dia dos pais. Imaginei que teria o direito de pensar livremente sobre o tema que escolhi como o da minha profissão como cientista: a política. Afinal, como diz a frase de Millôr que já é quase lugar comum: “livre pensar é só pensar”. O meu livre pensar de hoje é sobre o quanto os políticos estão chatos e por qual motivo fazem tanto esforço para não mudarem o rumo. Rumo que foi responsável por destacar Plínio de Arruda Sampaio no primeiro debate televisivo entre presidenciáveis. Ao contrário de outras campanhas que ele participou – eu fui coordenador da campanha de Plínio ao governo de São Paulo, em 1990, e posso atestar que a performance dele neste debate recente foi surpreendente (possivelmente até para dona Marieta, esposa dele) - ele não está se levando tão a sério. E retomou aquele charme histriônico dos políticos de antes. Algo de Jânio Quadros, Ademar de Barros, Enéas e até mesmo Suplicy. Collor, no meu modo de ver, já era a transição para o estilo Datafolha de ser: cheio de certezas e raiva contida (não muito contida, no caso dele, é verdade). Sei que os analistas de plantão dirão que estou enaltecendo o estilo populista. Mas para quem leu o que escrevo desde pequenino (é fato que nunca fui alto) sabe que não sou afeito aos populismos (nem mesmo o russo!). É que desconfio de quem se leva muito a sério. Normalmente não consegue perder e, portanto, não ouve, é pouco maleável. Político, que pela avaliação certeira de Max Weber tem, por natureza, que ser maleável, tem que ter este jogo de cintura consigo mesmo. Porque quando o político não sabe perder e rir de si, pensa o tempo todo no que o eleitor está avaliando de sua performance. O que pode parecer respeito é, na verdade, mercado porque o raciocínio é de como deve se vender melhor, ser mais palatável. E aí, podemos comprar gato por lebre. Mais ainda num país de “cultura janeleira”, como dizia João do Rio.
Assim, os políticos de hoje são chatos (e, portanto, perigosos) porque acreditam demasiadamente em si (e pouco no eleitor). Este é, inclusive, o maior defeito de Marina: é muito contida, é muito igual à inspetora de educação, naquela sua certeza fundada em portarias e normas técnicas, no seu orgulho a respeito do rumo certo de se fazer as coisas. Marina leva jeito para ser humana e brasileira quando lê suas poesias, que certamente não aumentam seu índice de intenção de voto, mas interessam ao mundo. Dilma e Serra são o supra sumo da chatice e exemplo maior de onde chegamos nestes tempos de política como ciência exata. Parece que são candidatos a Deus: não podem errar, são juízes da Via Láctea, citam números e currículos como se fossem a encarnação de Pelé, Airton Senna, Mozart ou Einstein. Gênios da raça. Forçam o sorriso e olham para a câmera seguindo os conselhos do sábio César Maia e outros conselheiros que até onde sabemos nunca tiveram muita popularidade no país. Não entendo, ao ouvi-los, como ainda não foram indicados ao Prêmio Nobel. Este é o traço de personalidade que vem judicializando a política tupiniquim. Porque se não ganham na rua, precisam ganhar no tapetão. Mesmo que longe dos olhos do eleitor, porque vitória é vitória, tal como Maquiavel atestou no século XVI.
Obviamente que sendo dia dos pais, ao escrever este artigo despretensioso veio à mente uma frase de meu pai. Ele dizia que há três defeitos insuperáveis no ser humano: o mau hálito (meu pai é dentista), a ingenuidade e a chatice. Sinto que quem vencer as eleições deste ano nos brindará com quatro anos de chatice, já que é um defeito insuperável, que já vem de fábrica e é apenas aperfeiçoado ao longo da vida.
É nesta altura do artigo que me pergunto os motivos para a tendência política tupiniquim valorizar a chatice. Penso que existe uma relação direta com a profissionalização da política e o fim do papel da cidadania ativa em nosso país. Não é nada irreversível, mas é uma tendência. Os partidos são, hoje, empresas eleitorais. Trabalham com números e grupos focais. Alteram o discurso ou o penteado ao primeiro sinal de reprovação do eleitor consultado. Fazem investimentos pesados que precisam dar retorno. Trabalham com metas diárias, semanais, mensais. E, todos sabemos, será tudo distinto se vencerem. Minha hipótese é que a política brasileira se “americanizou”. Segue a racionalidade de mercado. Pensa a política como mercado. Mas ainda não descobriu o humor como arma, tal como o marketing brasileiro que vende amortecedor com cachorrinho correndo pelas ruas.
Enfim, a política ficou chata como um jogo dirigido por Dunga. Como a Folha e seu Datafolha. Aliás, a Folha foi o único jornal que atacou o lado histriônico de Plínio (cuja chance de vencer é exatamente proporcional à sua atual intenção de voto). E o colunista Fernando Barros e Silva foi o porta estandarte desta falta de humor. O artigo comparando Plínio com Beckett foi a demonstração do grau de prepotência e ausência de humanidade da grande imprensa brasileira. Num dia inspirado por Millôr, termino este livre pensar com mais uma frase do próprio:
“Está mesmo muito difícil escolher. Confesso minha absoluta indecisão. Até agora não sei se vou votar no Ibope, na Lei Eleitoral ou no Bonner.”

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