Figura meramente ilustrativa de um AGV, Automotrice Grande Vitesse, utilizado na Europa e que substituirá os atuais TGV´s |
Então tá. O TAV foi mal estudado, ninguém sabe ao certo quanto vai custar, o BNDES vai botar um dinheirão, Campo de Marte não serve como terminal em São Paulo… que mais? Ah, no Brasil faltam escolas, hospitais, metrôs e uma porção de outras coisas mais urgentes e mais baratas. E, pecado imperdoável, o governo garantia no princípio que o TAV seria privado, e hoje se vê que não é nada disso. Como diz nosso Elio Gaspari, “assim, até Eremildo o idiota vai querer montar uma empresa de taxi para a Lua”, etc.
Mas ferroviário tem “lombo duro” (sic Bernardo Figueiredo), e aqui estamos de novo para defender o Trem de Alta Velocidade. Sem discutir, mas com um único argumento: como é que as pessoas vão se deslocar dentro de 10 anos entre Rio e São Paulo, as duas maiores regiões metropolitanas do país, e que representam, com o Vale do Paraíba e Campinas, 20 % da população brasileira e 33 % do PIB, sem um trem de alta velocidade?
Santos Dumont e Congonhas estão saturados, ou quase. Desde 2000, segundo as estatísticas da ANAC (que vão até 2009) o tráfego entre os dois aeroportos não consegue passar de 3,4 milhões de passageiros/ano. Como nenhum dos dois aeroportos pode ser ampliado — Santos Dumont porque está dentro da Baía da Guanabara, e Congonhas porque está no meio da cidade de São Paulo — a saída será mandar os passageiros para os aeroportos mais afastados, como já está acontecendo. Expulsos pelo leilão de poltronas da Ponte Aérea — um bilhete de ida para as 18 horas comprado de véspera pela TAM custa R$ 890,00 — os passageiros se resignam a perder mais que o tempo de vôo para chegar ou sair de Guarulhos, Viracopos ou Galeão. Nos 10 anos de 2000 a 2009, o movimento de passageiros Guarulhos-Santos Dumont-Guarulhos cresceu 33 vezes.
Um cenário provável sem o TAV é portanto uma Ponte Aérea cada vez mais cara e uma massa de passageiros nos aeroportos periféricos – e as vias de acesso que os servem. É suportável? Sim, é suportável. A capacidade de tolerância do ser humano vai até a morte.
Falando em morte, outro cenário provável sem o TAV é que os limites do transporte aéreo levem mais gente a optar pela Dutra, onde, no ano passado, segundo a concessionária Nova Dutra, morreram 204 pessoas. Um Airbus por ano, contando os tripulantes. Que se caísse no Rio ou em São Paulo iria mudar o cenário rapidamente a favor do trem. Mas como é na rodovia, ninguém liga. Mortes nas rodovias fazem parte do nosso cotidiano. A situação hoje na Dutra é parecida com a de Congonhas e Santos Dumont: mais carros, ônibus e caminhões do que comporta a via. No entanto, diferente dos aeroportos, não existe agência reguladora para limitar o número de veículos. De modo que, sem o trem, a previsão do estudo da Halcrow é que, até 2014, o número de passageiros que viajam entre as duas capitais cresça 45,6 %.
Um terceiro cenário sem o TAV e que Rio e São Paulo continuarão ganhando população e perdendo qualidade de vida. Não porque seus habitantes querem, mas pela impossibilidade de trabalhar na cidade e morar fora. Segundo o censo de 2010, a população do município do Rio de Janeiro cresceu 7,9 % nos últimos 10 anos, e a de São Paulo 7, 8 %. No mesmo período, segundo o site G1, baseado em dados do Denatran, a frota de automóveis cresceu 47 % em São Paulo e 34 % no Rio. É o império da irracionalidade, sustentado pela falta de transporte público de um lado e pelo apetite descontrolado da indústria automobilística do outro. Entre os dois fica a população, vendo os anúncios da TV.
Fonte: http://www.revistaferroviaria.com.br/blog/
Enviado ao blogue para divulgação pelo Engenheiro Ferroviário, Luiz Carlos Martins Pinheiro.
5 comentários:
Amiga Angeline
Parabéns por esta iniciativa.
O TAV desde seu lançamento no Japão, pelos idos de 1959, representa uma nova era às ferrovias no mundo.
Está se ampliando e se espalhando pelo Mundo, onde a ferrovia luta para não perder sua marca no transporte de passageiro.
O Brasil continuando na contra-marcha dessa evolução insuperável não tem hoje uma ferrovia mais voltada ao tráfego público como sempre foi, mas sim ao tráfego privado de grandes demandas de transporte de cargas de baixas tarifas.
Só o TAV realmente poderá reverter tal situação.
Note-se de cara a sua importância também aos trnsportes do correio, de bagagens, economendas etc, contribuindo para reduzir não só o transporte de passageiros em nossas rodo e aerovias, mas também destas coisas, com grande ganho, também, a redução da poluição.
Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória.
Caro Sr. Luiz Carlos
Acompanho o Sr nos blogs e, sinceramente, só agora a "ficha caiu" e percebi que o Sr é ferroviário.
Não sou nem me lembro de algum parente próximo que o seja ligado à área.
Mas sou apaixonado por trens e pelo que vejo está "no sangue" pois meu filho, que hoje tem 6 anos, desde muito cedo também gosta muito, tanto que no ano passado programamos uma visita à Tiradentes para um passeio de maria fumaça - que não aconteceu por causa das pessadas chuvas da época, mas acabei levando-o até Recreio-MG para ver uma composição do Trem da Bauxita (fotos do passeio e - outras sobre o tema - podem ser vistas em: http://www.kvari.blogspot.com/).
Até comecei a minha própria ferrovia entrando para o maravilhoso robby do Ferreomodelismo, comprando minhas primeiras composições da Frateschi e projetando minha primeira maquete.
Concordo com o Sr. que o transporte ferroviário é a solução de muitos problemas de logística no Brasil - continental como só ele.
Caro Kvari
Fomos ferrovário de 1961 a 1994 quando nos aposentamos.
Que ótimo sabermos da sua dedicação pelo assunto.
Pelo que sabemos Itaperuna num total desrespeito à sua história, destruiu sua estação, como querendo apagar a ferrovia dela. Teria preservado algum outra coisa dela?
O trem de bauxita é o único que restou pela Transveral Campos - Cisneiros, passando por Santo Antônio de Pádua e Além Paraíba. Na prática o trecho ferroviário em questão virou uma ferrovia industrial de um só cliente: Grupo Votoratim.
Na prática atual nossas tradicionais ferrovias só restam com a CVRD: Vitória a Minas e Carajás. É uma etapa que precisamos superar, com o estabelecimento de moderno serviço de passageiro.
Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória.
Acredito que não restou nada em Itaperuna da sua ferrovia.
Em Miracema tem ainda a caixa d´água lá perto da rodoviária.
Parece que tem um projeto la em itaperuna (até comentado aqui no blog), utópico na minha opinião, pois não se trata de preservação ferroviária mas de nova construção por atingos caminhos ferroviários com a utilização de maria fumaça para passeios turísticos. Mas, enfim, que venha, trazer recursos à região, memória aos saudosistas e luz aos governantes sobre o transporte ferroviário.
O trem da bauxita (da FCA) não passa por Cisneiros nem por Pádua.
Segue por Minas até Além Paraíba e Barão de Angra em Paraíba do Sul, onde faz a troca para trens e vagões da MRS que leva o minério para a CBA em Alumínio, São Paulo.
O ramal Cisneiros/Pádua serve de passagem para Campos (e de lá para outros estados) onde a FCA mantém oficina.
Na visita à Recreio, os taxista disseram que uma empresa da MMX (Eike Baptista) passou por lá para fazer vistoria na linha com a intenção de reativá-la para passagem de minério até o Porto do Açú.
Não acredito, até que me provem o contrário, que o TAV seja a melhor opção para o transporte na região a que se propõe, pois acho que não poderá desenvolver todo o seu potencial nos curtos trajetos entra as várias estações propostas.
Seria mais bem utilizado em trajetos longos e sem tantas paradas.
Talvez alguma coisa intermediária entre um trem normal e o TAV seja mais adequado.
E tomará que venha acompanhado de transporte de cargas também.
Um abraço.
Caro Kavari
A ferrovia à que nos refrimos é a Leopoldina, sobre a qual temos o Anexo V - da MPmemória, que lhe podemos enviar gratuitamente pela Internet.
Santo Antônio de Pádua situava-se na denominada Linha Transversal Campos a Cineiros,com ralmal para Miracema.
Em Miracema o mais importante marco ferroviário existente é a Estação, a cujo pátio perteceu a Caixa d´água a que se refere.(ver Capítulo GVP - Volume II - Logradouros de Miracema, também grátis pela Internet.
Ao nosso ver falar em transporte de passageiro no triângulo econôminco Rio - São Paulo - Belo Horizonte sem TVA é melhor esquecer.
Quanto ao que existe sobre o TAV Brasil, em detalhes, no momento, não temos a minima condição de opininar. É matéria para equipe técnica multi-disciplinar de raro saber. Não temos conhecimento para isto.
Só conhecemos até agora muito palpite contra e a favor, de gente que evidentemente não demonstra conhecimento para isto.
Como a Engenharia Final ficará por conta do vencedor na licitação pública internacionsal é ela que definirá realmente que paradas ou não fazer, o que será fruto de análise dos fluxos de passageiros, além de custos e interesses políticos em jogo.
Observe-se que certos locais podem ser atendidos por serviços complementares, coletando passagerios ao TVA.
A definição pelo TVA está política e legalmente adotada, dependendo apenas na licitação, etapa seguinte do empreendimento.
Quanto à Itaperuna tudo que faça para recuperar a sua memória ferroviária, será pouco, mas bem-vindo.
Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória.
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