Costumo dizer que no início da pandemia no Brasil, apesar de parecer que tudo fluía normalmente, houve o negacionismo do governante maior da nação, o Presidente da República, com vários incidentes que dispensam maiores comentários. Apesar do Ministro da Saúde, Mandetta, também ter falhado, afinal faltou planejamento e tantas outras coisas, ele foi fundamental no diálogo diário com a sociedade, apresentando o cenário e orientando nas ações individuais e coletivas. No entanto, com o tempo essa situação se desfez. É difícil trabalhar com um líder, governante que não colabora, ao contrário atua no sentido inverso do enfrentamento da crise. O ministro não suportou o comportamento temerário do presidente.
Em abril, o presidente da República quis impedir governadores e prefeitos de tomarem medidas restritivas. Buscava comandar o país com seu autoritarismo perverso. Assim, o STF foi consultado por meio de ações específicas e ratificou que prefeitos e governadores poderiam sim estabelecer regras restritivas em seus redutos. Ressalte-se que essa decisão não tirou o poder de ação do Presidente da República, que tem responsabilidade com o todo, a nível nacional. Nem poderia tirar. Sobre esse tema, leiam detalhes aqui.
A confiança inicial no Mandetta, no Ministro da Saúde do Brasil, e a imprensa, que atuou 24h informando sobre a pandemia, foram fundamentais na condução da crise que começava. O isolamento social, depois o uso de máscaras etc. foram atendidos pela maioria da população brasileira.
No entanto, o que verificamos foi que o negacionismo, a pressão dos empresários, bem como a atuação de governantes negacionistas também no âmbito estadual e municipal, refletiram e refletem diretamente na atitude da sociedade. As pessoas já exaustas, sem liderança e contaminadas por energias negativas foram afrouxando as prevenções.
O neurocirurgião e cientista brasileiro, Dr. Nicolelis, foi entrevistado recentemente por Xico Sá, quando citou um livro, que não anotei o título e nem o autor, em que este afirma que o principal para vencer uma pandemia são as lideranças políticas. "Sem liderança, não há ciência que vença uma pandemia." A sociedade ouve o que os líderes dizem, fazem o que os líderes dizem. Logo, se não agem os líderes, não há como vencer uma crise de abrangência mundial.
No mesmo caminho, o psicólogo Steven Taylor, pesquisador da Universidade da Colúmbia Britânica, afirma que “se o público não confiar em seu líder ou nas autoridades de saúde, não fará o que elas dizem”.
Nesse sentido, em entrevista ao Pública, Taylor, que escreveu no início do ano passado sobre duas pandemias importantes, informou o seguinte:
“[O comportamento dos governantes] é extremamente importante por várias razões. Os líderes do governo precisam liderar pelo exemplo, precisam mostrar às pessoas quais são as coisas importantes que elas devem fazer”, afirma Taylor. Para ele, “se o público não confiar em seu líder ou não confiar nas autoridades de saúde, não fará o que elas dizem”.PÚBLICA: Aqui no Brasil, apesar do aumento do número de casos, o presidente já chamou a pandemia de “fantasia” e “histeria”. Contra todas as recomendações, ele incentivou a realização de manifestações populares a seu favor, cumprimentou e tirou selfies com apoiadores. Qual a importância e de que forma o comportamento dos governantes pode influenciar a população em uma pandemia?É extremamente importante por várias razões. Os líderes do governo precisam liderar pelo exemplo, precisam mostrar às pessoas quais são as coisas importantes que elas devem fazer. O líder do governo no Canadá, por exemplo, o primeiro-ministro Trudeau, está em autoisolamento, porque sua esposa foi infectada pela Covid-19. Ele está mostrando às pessoas o que se deve fazer: ao entrar em contato com alguém [infectado], você deve se isolar. Ele está liderando pelo exemplo. Isso é realmente importante, porque as pessoas buscam nos líderes inspiração e conselhos de como se comportar. Outra razão é a confiança pública. Se o público não confiar em seu líder ou não confiar nas autoridades de saúde, não fará o que elas dizem. Você pode garantir a confiança pública fornecendo informações precisas em tempo hábil, ser visto como confiável e transparente, além de reconhecer as incertezas.Agora, se não se confia no governo, isso tem implicações realmente importantes. Foram realizadas pesquisas durante o surto de ebola na África e em Monróvia, na Libéria. Essa pesquisa mostrou que pessoas que não confiavam no governo não cumpriam o distanciamento social, e isso para o ebola, que é uma doença muito, muito séria. Isso mostra o quão importante é para o governo garantir que o público o veja como confiável.
Baseado nisso que tenho dito que presidente, prefeitos, governadores, autoridades sanitárias, vereadores, deputados, que não dialogam com a sociedade, são omissos, não priorizam a pandemia. Assim, têm uma responsabilidade enorme pelas consequências da não ação, da não liderança!
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