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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

"AOS QUERIDOS ALUNOS E COLEGAS DE TRABALHO, MINHA DESPEDIDA"

Seguindo viagem
Aqui eu despeço 
Da carreira de Professor, 
Passo dias a lembrar 
Das coisas que se passou. 
Do começo ao fim 
O espaço encurtou. 
E o que há pouco era difícil, 
Já é saudade, foi esquecido. 
As pedras que surgiram 
Eu deixo às margens, 
Não levo comigo. 

O Tempo é mesmo Mestre, 
Autor da temperança. 
Se meus dias de ensinar 
Vão se perder na lembrança, 
Este Tempo caprichoso 
Me tece uma delicada trança, 
Com os fios de minhas lembranças. Com a Gramática, Literatura e Arte 
Ensinei prosa e poesia, 
Leitura por toda parte. 
Me alimentei de tantos versos, 
Degustei paródias, prosódias e cacofonias. 
O livro por todos estes anos 
Foi meu pão de cada dia. Nas viagens de além-mar. 
Li as Cartas de caminha. 
Vi nas sátiras de Gregório 
Um Brasil que descaminha. 
Para isso consertar “Livros, livros à mão cheia”, 
Com o poeta dos escravos, mandei a garotada pensar.

Os moinhos de Quixote 
Trouxeram às minhas aulas 
Ilusão, amor, alegrias. 
Mas a eles João Cabral falou 
Das muitas vidas Severinas, 
Que vale vê-las brotar, ainda que franzinas.

Anos de ouro foram 
O tempo dos Recitais. 
Garimpava em meus rebentos 
Os genuínos talentos, 
Poemas, contos, canções, 
Gostinho de quero mais. Com Oswaldo, Mário, Bandeira 
Ensinei a transgressão. 
No Brasil da vanguarda 
Viajamos para Pasárgada 
Onde só tem vez 
Quem é amigo do Rei. Viro a página, mais um capítulo, nova lição, 
Guimarães recria a língua, traz o mundo pro Sertão, 
Onde a Justiça se equilibra nas balas de Lampião. 
Na luta do bem e do mal, 
No sentido e aprendizado da vida, 
Os alunos me perguntam quem está com a razão. 
Vou buscar esta resposta 
No Auto da compadecida, 
Para tantos pecadores 
Um julgamento fiel, 
Nossa Senhora Advogada, 
O Juiz Emanuel. Foi em meio à travessia 
Que um amigo de nome Aurélio 
Me entrega o leme, a direção. 
Mas em meio ao mar bravio 
Enfrentando tempestades, 
Foi que Ana Terra deparou 
Com certo capitão Rodrigo, 
Codinome Frederico, que ainda hoje 
O Tempo e o Vento não levou.

Foi com Bilac que louvei 
Minha Profissão de Fé, 
Esta ourives professora 
Lapidou o seu rubi. 
Nesta via de mão dupla 
Não sei o quanto ensinei 
Sei o muito que aprendi.

Raquel, Vinicius, Drummond, Machado, Amado, Vieira, 
De mãos dadas eu segui 
É lição para a vida inteira. Nestas tantas idas e vindas, 
Histórias que não tem fim. 
Hoje olho para o lado, 
Vejo que o Paraíso ficou 
Bem mais perto de mim. A certa curva da estrada 
Não há mais exclusiva dedicação 
Há tempos estou dividida 
Com uma outra missão. 
Nos pratos da balança 
Não estão só o mestre e a criança. Encerrando minha prosa, 
Aos colegas que ficam 
Redigindo a profissão, 
Desejo que ao final de seu poema 
O seu verso também seja 
Sim, valeu a pena A todos que comigo caminharam , 
Neste ofício predileto, 
Deixo o abraço poético do Ferreira, 
Com açúcar, com afeto.

Professora Ana Cristina Pinheiro

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