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domingo, 15 de janeiro de 2023

MIRACEMA: RUA DIREITA DÉCADA DE 1910 E UM POUCO DO INÍCIO DA URBANIZAÇÃO



Essa imagem flagramos na dissertação de mestrado de Júlia Maia, de 2018, na UFF. Consta de nosso banco de bibliografias do blogue, A conhecida Rua Direita, oficialmente denomina-se Rua Marechal Floriano Peixoto.

Segundo a pesquisadora (pp. :

O primeiro calçamento foi fruto de iniciativa particular e ligava o Hotel Braga à Estação Ferroviária (JOELS, MELO e KATO, 2000). Assim, começaram os primeiros movimentos de descontentamento da população do distrito que, através de publicações em jornais, reivindicavam melhorias.

Segundo a publicação “Miracema e Liberdade: Os caminhos da Emancipação” as reclamações mais constantes eram: ausência de iluminação, abusos das tarifas do trem, limpeza e irrigação das ruas e construção da Praça D. Ermelinda. Ainda, segundo a referida publicação:

A administração Municipal situava-se, então, em Santo Antônio de Pádua e arrecadava de Miracema somas consideráveis sob a forma de impostos. Porém apenas uma parte mínima desses recursos arrecadados eram convertidos em benefícios para a nossa população, ficando o vilarejo, desta forma, carente de vias de comunicação, de saneamento e de urbanização. Isso fez com que os senhores José Giudice, José Carlos Moreira, Barroso de Carvalho e outros, interpretando os sentimentos cultivados pelos miracemenses, pleiteassem do então Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Raul Veiga, quando em visita à Miracema no ano de 1920, a emancipação política e administrativa do 2º distrito. O pedido em apreço não foi atendido.
Já em relação à ocupação do território, outro fator importante foi o crescimento da produção fabril e consequentemente da classe operária, o que resultou na implantação da “vila operária”, caracterizada por habitações mais simples e com tipologias homogêneas. [...]

Essa expressividade da produção impulsou o crescimento populacional e a arrecadação do distrito, o que gerava cada vez mais o descontentamento pela dependência a Santo Antônio de Pádua. Passados dezesseis anos de luta, marcados por intensa participação popular, em 1935 conquistou-se a criação do Município de Miracema, conforme panfleto “Em Tempo: Três Décadas” organizado pela Secretaria Municipal de Cultura do Município

o que marcou mesmo os anos 30 em Miracema foi sua emancipação de Pádua. Nessa época, a campanha separatista foi reiniciada com redobrado entusiasmo, passando a ser assunto permanente nas conversas, na imprensa e nas manifestações públicas, que então, faziam parte da vida do distrito. Em 1934, convocada a grande convenção, a fim de adotar novas estratégias para o movimento, chega a notícia em Pádua, de que Miracema estava em “pé-de-guerra”. Assim, Melchiades Cardoso, Bruno de Martino, Dirceu Cardoso e José Negle, fizeram circular imediatamente no distrito um boletim, no qual afirmavam que o movimento era pacífico. Daí o cognome – “Os Quatro Diabos”, inspirado em um filme em exibição no Cine XV de Novembro. No mesmo ano, realizou-se o plebiscito e, em 1935, é decretada a emancipação. Criado o município, chegou a hora de, finalmente, realizar sua instalação em 3 de maio de 1936. (CENTRO CULTURAL MELCHÍADES CARDOSO, s/d)
Possivelmente a analogia com o filme americano, de 1928, relaciona os quatro irmãos trapezistas que, de forma diabólica (arriscada) se apresentavam numa corda bamba circense, enfrentando os desafios do circo. Por sua vez, em Miracema, quatro moradores se juntaram na difícil tarefa de conseguir a emancipação do município, o que foi visto como estar numa corda bamba entre os interesses em jogo.

De acordo com Joels, Melo e Kato (2000, p.39)

Miracema foi o primeiro município criado no Estado do Rio de Janeiro desde a proclamação da República, em 1889, o que evidencia a postura contrária do governo diante da instalação de novas unidades municipais. Demonstra, também, o empenho e força da luta e importância da Campanha separatista de Miracema, que atraiu, na época, a imprensa nacional curiosa a respeito da agitação local. 
Nessa mesma época, foi inaugurado o Hospital de Miracema e esse também foi um importante vetor de expansão a ser considerada na estrutura urbana do território, visto que tal fato provocou a ocupação ao longo da via em direção ao hospital (atualmente, Rua dos Gabriéis);

Vale destacar que a rua dos Gabriéis é popularmente conhecida como Rua do café por conta dos diversos depósitos de café que haviam ao longo de sua extensão devido à sua proximidade com a estação ferroviária, o que facilitava o escoamento da produção local. Dessa forma, quando aberta, foi concedido o nome de Rodovia do Café.

Nesse contexto de crescimento expressivo e fortes mudanças no início do século XX, a expansão do traçado urbano seguiu as mesmas indicações anteriores, entretanto, nota-se um princípio de ocupação na margem direita do Ribeirão Santo Antônio.

Acredita-se que a construção do Ginásio de Miracema (Escola de Professores) tenha grande influência nessa nova tendência de ocupação. Assim, é formada a conhecida Rua dos Coronéis (atual Rua Barroso de Carvalho), composta, até os dias atuais, por expressivos casarões de grande valor arquitetônico pertencentes as famílias da antiga elite do município.

A partir da trajetória apresentada, observamos que a ocupação do território foi concebida sem um plano urbanístico, assim, não podemos afirmar que o traçado é regular. Contudo, nota-se que houve uma preocupação e uma preferência pelas áreas planas, por traçados perpendiculares e retilíneos.

Outro fator a ser considerado é a opção por ruas largas, fato este que não é muito comum nos centros antigos das cidades. Miracema apresenta em sua primeira via, conhecida como Rua Direita (Rua Marechal Floriano), uma largura considerável para a época, de aproximadamente nove metros.

Já com a categoria de município, Miracema recebeu do Estado do Rio de Janeiro, em 1938, o mapa do município. Acredita-se que esse foi o primeiro mapa desenvolvido do território e nele é possível observar a demarcação da sede (azul) e dos demais distritos da época, sendo eles: Venda das Flores (amarelo) e Paraíso do Tobias (verde).

Nesse mapa e em especifico no desenho de sua sede (Figura 14), observamos a consolidação dos eixos de crescimento anteriormente explicitados com o acréscimo do princípio da ocupação em terrenos de topografia elevada (especialmente atrás da Igreja Matriz) e a delimitação dos perímetros urbano e suburbano.


Um comentário:

AngelMira disse...

Comentário feito no facebook por uma leitora vagalume:

Celeste Scramignon
Tivéssemos preservado as vilas, os prédios "bordados" com arte, hj seríamos um importante polo turístico! Lamentável a falta de gestão e do entendimento dos munícipes! ...e ainda hoje !!

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