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segunda-feira, 15 de julho de 2013

A imigração libanesa na região noroeste fluminense resgata parte importante da história regional.

Matéria publicada no Jornal A Terra, a mais recente publicação de Miracema.

Rechmaya, aldeia próxima a Beirute, de onde partiram grande parte dos libaneses que imigraram para Miracema. Crédito: Marcelo Salim de Martino.

*Marcelo Salim de Martino

“Imigrante oriental que chega ao Rio de Janeiro, compra um baú e vai mascatear – é turco; depois que ganha uns cobres, arranja duas portas e abre um armarinho – é sírio; quando já está rico, com os bigodes crescidos, faz um sobrado, - aí é libanês”. Malba Tahan.
Um dia, conversando com minha mãe, percebemos que já estávamos na sexta geração da família Salim, que havia emigrado para o Brasil no início do século XX, e que nenhum registro havia sido feito sobre nossas origens. Comentando o fato com outros descendentes constatamos que o mesmo acontecera com suas respectivas famílias.
Os registros mais antigos confirmam que o imigrante libanês povoa nossa região desde o final do século XIX, quando se intensificaram as imigrações de sírios, libaneses, armênios e palestinos para outros países, inclusive o Brasil. Exatamente nessa mesma época a cultura cafeeira é intensificada na região. Em 1920, Itaperuna é reconhecida como o maior município produtor de café do Brasil com uma produção de 277.355 sacas e Miracema, que era o segundo distrito de Santo Antônio de Pádua, alcançou, nesse mesmo ano, a posição de maior distrito produtor da rubiácea no país.
Os libaneses viram na riqueza gerada pelo café a oportunidade de enriquecerem, de constituírem suas famílias, de ajudarem parentes que haviam permanecido no Líbano ou de mandarem vir para o Brasil os entes queridos que lá haviam deixado, enfrentando invernos rigorosos, privações de toda ordem e, sobretudo, a violenta perseguição empreendida pelos turcos otomanos.
Primeiro trabalharam como mascates, com suas enormes malas, levando mercadorias em lombo de animais para as fazendas naquela época bastante movimentadas com o ir e vir de colonos e de tropeiros apressados a fim de escoarem a produção cafeeira das propriedades, que somente a partir de 1883, com a inauguração do ramal Pádua-Miracema, passaram a ser embarcadas pela Estada de Ferro Santo Antônio de Pádua. Tempos depois, se instalaram como comerciantes na parte central da vila com suas lojas de secos e molhados, armarinho, tecidos, louças, ferragens e suprimentos para a lavoura. Segundo o depoimento de minha mãe, A Casa dos Três Irmãos, estabelecimento comercial de Chicralla, Alfredo e Amim Salim, era uma das melhores casas do ramo da cidade. Havia de tudo um pouco: crepes e sedas da China; louças da França e da Inglaterra; opalinas, cristais e vidros finos de procedências diversas, que dividiam vitrines com os afamados chapéus Curi e Ramezoni e com os disputados calçados das marcas Souto e Bordallo. Tudo isso contrastava com as ruas ora empoeiradas, ora lamacentas, cujo calçamento foi iniciado somente em 1927, por força da instalação da Subprefeitura de Miracema, que passou a aplicar no distrito, o que aqui se arrecadava em taxas e impostos cobrados pela Prefeitura de Pádua. Exigência da população que queria sua liberdade.
Pois é a história dessas pessoas e de suas famílias que tanto contribuíram e ainda contribuem através de seus descendentes para o desenvolvimento de nossas cidades que a pesquisa, que já está no seu terceiro ano, pretende resgatar. 
O trabalho reunirá depoimentos de familiares que narram a saga de seus ancestrais, informações sobre episódios históricos do Líbano e um pouco da história das cidades fluminenses selecionadas pela pesquisa. Tudo isso enriquecido com importante material iconográfico.
Recuperar informações perdidas num passado distante tem sido nosso maior desafio. Muitas dessas famílias se mudaram para outras cidades e com elas se foram partes da nossa história.
Felizmente contamos com o avanço tecnológico, onde os computadores se tornaram ferramentas importantíssimas na recuperação da informação, seja através da pesquisa on-line em instituições de memória, que cada vez mais estão digitalizando seus acervos que podem ser facilmente acessados de nossas próprias casas ou simplesmente pelas redes sociais, através das quais localizamos pessoas, resgatamos suas histórias e de seus familiares que introduziram novos hábitos e alegraram nosso povo 
com sua língua estranha e com seu sotaque engraçado.

O autor é Cientista Social, foi Diretor de Cultura de Miracema entre 1985 e 2008 e pesquisador da história regional. 
Foto de Rechmaya, aldeia próxima a Beirute, de onde partiram grande parte dos libaneses que imigraram para Miracema.

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