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sexta-feira, 14 de março de 2025

JORGE FREDERICO, CARNAVALESCO, BALUARTE DO CARNAVAL MIRACEMENSE

Duda e Jorge Frederico no desfile da Imperatriz Leopoldinense no carnaval carioca.


Por Duda Fíngolo Tostes*

Falar de Jorge Frederico é estabelecer uma relação com a história do carnaval de Miracema, nas décadas de 1980 e 1990, quando ele institucionalizou todo seu potencial e conhecimentos na Direção de Turismo da Prefeitura Municipal.

Acompanhei Jorge desde criança. Ele está vivo na minha memória. Foi destaque Luxo Masculino do Grêmio Recreativo Escola de Samba Chacrinha, do saudoso Jair Polaca e família, que também durante décadas colocou um lindo Carnaval na Rua Direita, nos tempos áureos dos festejos daqui. Eram muitos turistas e visitantes que vinham curtir o melhor carnaval do Noroeste Fluminense. O que é possível afirmar sem medo de errar devido a quantidade de pessoas que prestigiavam e conheceram essa época, com inúmeras atrações: blocos, bois-pintadinhos e num determinado patamar de 7 Escolas de Samba.

Com o frescor da memória, sempre atento as nossas manifestações e patrimônio cultural, destaco que o Polaca organizava e saía com seus foliões e uma impecável Escola, da Rua João Pessoa, quase em frente a residência do Sr. Sôdico Coelho (Frederico Coelho Vaz), avô do Jorge, mais precisamente do “Bar Fim de Noite”, do Fabiano e da Rosária. Era ambiente muito familiar a mim, onde durante o ano eu ia comprar papa de milho e outras guloseimas feitos pela Rosária, um casal de extrema educação e respeito aos fregueses.

Acompanhava o carro alegórico que o Jorge desfilava, pelo conhecimento entre nossas famílias, carregava seu cigarro e água durante o desfile. Aproveitava e conferia de perto todas as alegorias, fantasias, carros alegóricos e foliões imperdíveis de serem vistos: Fernadinho, Cesar Zapp, Sebastiãozinho do Braz, Ricardo da Dona Penha, Jorge Tenga, Rita Porta Bandeira, Fota e a família toda do Jair Polaca. Nessa época as famílias envolvidas no carnaval trabalhavam meses, unidas incansavelmente para o sucesso de Miracema (Calil, Sr. Carmindo, Manoel Badeco, Amália Moreira e Gerci Silva).

O nosso Carnaval era de vasta programação e opções de divertimento dia e noite: salão do Jair, salão do Calil, Clube Esportivo (Associação Atlética Miracema) e Clube XV, com matinês antes do horário dos Desfiles da Rua Direita e, após, os bailes noturnos, com seus espaços tematicamente decorados. O espaço do Clube XV era criado e vistoriado por Jorge, que também era responsável pela decoração da Rua.

Os desfiles eram rigorosamente iniciados no tempo previsto, em função dos bailes para adultos. Nós, só frequentávamos as matinês, que tinham em seus cortejos: blocos das piranhas, blocos carnavalescos, bois-pintadinhos e mineiro-pau característicos da cidade, que desfilavam juntos. Ainda tinham as escolas de samba. Tinha que ter fôlego para tantas horas de aproveitamento desta incrível festa de Momo. Iniciávamos cedo vestidos de mascarados, percorrendo a cidade toda para assustar alguns e jogar óleo queimado em outros, nas garrafas de plástico com bico (lanças).

No Clube XV, Jorge foi Diretor Social por anos, todo Carnaval elaborava a decoração em painéis protótipos de meia folha de cartolina, desenhos coloridos de canetinha futura, onde levaria brilho já com brocal e as indicações da ordem de exposição na parede e no teto. Nos mínimos detalhes da organização, sempre indicava sua equipe de trabalho com um responsável pela execução do projeto.

Na decoração da Prefeitura na Rua Direita, a equipe era formada por funcionários da Prefeitura, que inclusive tinham que ter disponibilidade de trabalhar até 22 horas ou mais. Essa disponibilidade era necessária para dar conta de colocar os enfeites na antevéspera. Não era colocado antes devido a alguma mudança na previsão meteorológica, etapa em que envolvia os funcionários da Secretaria de Obras para ligar a iluminação interna dos enfeites, tipo letreiro em armação de madeira, plástico, tinta, galões e brocal e a turma que subia os enfeites na máquina retroescavadeira para amarrar nos postes de eucalipto. 

Uma outra etapa eram as comemorações do sucesso das decorações temáticas, depois vendidas imediatamente para outras cidades, porque “exportávamos carnaval”. Tudo supervisionado exigentemente em seus mínimos detalhes até a conclusão de cada etapa. Quando terminávamos a parte da confecção dos enfeites, rolava uma comemoração com salgados e bebidas a gosto, era um pouco cansativa a jornada, que só folgava domingo e tinha o tempo de execução programado. Em seu carro Opala, apelidado de “Trovão Azul”, cortava a cidade para supervisionar os trabalhos em cada lugar de execução e estar em tempo e hora de dar seu aval de finalização.

Recentemente, quando estávamos sem compromisso de trabalho, nos aventuramos na concretização de um sonho, que compartilhamos também com Marcelo Salim de Martino: assistir e desfilar no carnaval carioca. Através do miracemense José Carlos Rego e sua amizade com a carnavalesca Rosa Magalhães, que apadrinhou o surgimento da GRES. Sociedade Independente do Alto do Cruzeiro, em Miracema, fomos desfilar na GRES. Imperatriz Leopoldinense, na capital. Entre inúmeras idas ao Rio, levando linguiça para os novos amigos de lá, estávamos no carro alegórico sempre com uma celebridade a cada ano (o cantor Elimar Santos; Luísa Ambiel, da banheira do Gugu e o protagonista mirim do filme Central do Brasil, Vinícius de Oliveira). Fomos Tricampeões juntos. As peripécias e a parte das odisseias contarei numa outra ocasião.

Em 2009 fizemos uma homenagem póstuma na decoração do carnaval de rua com porta-retratos em tamanho gigante com fotos, que relembravam todas as suas facetas. Também o protagonismo no Carnaval, que ele reproduziu em suas fantasias criadas para o Mira Fantasy, que nos remetia ao carnaval, em função de sua concentração inicial na rua Direita e pessoas fantasiadas, como antigamente. Numa ocasião da festa à fantasia, fez uma personagem intitulada “Jorgethe”, pelo pseudônimo que o carnaval lhe proporcionou, chamávamos entre amigos de “Jorgete Carnavalha”.

Vale ressaltar que, além e apesar de sua genialidade, apresentou em seu último carnaval em vida sintomas de decepção com a realidade carnavalesca atual, das adaptações das novas gerações, do descompromisso com as tradições interioranas e, principalmente, das características do Carnaval de Miracema.

Antes que falhe totalmente a memória, vale registrar um período em que a valorização e o compromisso pelo carnaval eram coletivos, poder público e sociedade civil unidos no objetivo de aquecer nosso turismo, com essa potencialidade herdada de antecessores e antepassados, que faziam investimentos com retorno ao público presente na nossa passarela do samba. Jorge remonta a esse período de minha memória coletiva, simbólica, afetiva, familiar. Do tempo em que só eram tocadas marchinhas e sambas enredos, do lança perfume benigno, de respeito, foliões e pessoas fantasiadas, da criatividade, das sátiras inteligentes e a diversificada programação e opções de divertimento.

*Duda se identifica no texto, amigo, trabalharam juntos na Prefeitura Municipal e na Secretaria de Turismo, na de Cultura, nos carnavais e vivenciaram muita coisa juntos.

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