Nesta terça-feira, segundo dia da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, as negociações foram abaladas pelo vazamento de um documento do governo dinamarquês ao jornal britânico The Guardian. O texto que foi revelado é uma proposta de redação do novo acordo climático. A notícia da existência do documento causou mais impacto do que propriamente seu conteúdo. Um clima de desconfiança entre as delegações voltou às negociações do clima, espantando o otimismo expressado na abertura nesta segunda.
A reação mais enfática à aparição do texto dinamarquês foi do Grupo dos 77 mais China (G77), que reúne as nações em desenvolvimento. Embora pouca gente acredite que o vazamento tenha partido dos anfitriões da conferência, o embaixador sudanês Lumumba Stanislaw Di-Aping avisou que o primeiro ministro dinamarquês vai ter que se explicar sobre o teor do documento.
Os dois pontos que causam mais desconforto na proposta dinamarquesa é a defesa aberta do fim do Protocolo de Kyoto e a falta de metas de longo prazo de financiamento ao combate do aquecimento global. O texto de 12 páginas diz que Copenhague terá um conjunto de decisões que levará à criação de um novo tratado. Como sempre, enterrar Kyoto mexe com os brios do G77. “O que nós precisamos é implementar o que já concordamos no Protocolo de Kyoto”, disse Lumumba. O grupo defende um novo período de compromissos dentro do tratado já existente, ao invés de lançar uma nova estrutura legal.
ONGs e membros da delegação africana não gostaram nem um pouco da notícia de que um texto estaria sendo negociado sem o consentimento dos países em desenvolvimento. Durante manifestação realizada na tarde desta terça-feira os africanos ressaltaram que não vão aceitar nenhum acordo que limite o aumento da temperatura em 2°C. Com gritos de “Dois graus é suicídio “ e “Uma só África, um grau (Célsius)” , a delegação garantiu que continuará seguindo de perto as negociações . “Senhoras e senhores, nós estaremos do lado dos nossos negociadores desde que eles defendam os interesses do povo pobre da África. Nós estaremos todo o tempo com vocês [povo africano], seremos cuidadosos, seguiremos as discussões e estaremos bem vigilantes. Nós encontraremos com vocês amanhã, vocês conhecem o local. Nós continuaremos a importuná-los, ninguém deve dar um passo atrás, ninguém vai nos calar, ninguém deve dizer nada a vocês que não seja construtivo. Quem define o que é construtivo e civilizado? Nós estamos sofrendo e devemos nos defender. Nós não morreremos em silêncio”, disse o porta-voz da delegação.
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