Arquivo VAGALUME

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O HOTEL DO CARMO

Há alguns dias escrevi esse trecho para registro numa postagem que tratava de uma possível ação do governo municipal de utilização do prédio do Hotel Braga, em Miracema, para a construção de um teatro, aproveitando toda a riqueza arquitetônica e histórica do prédio.

O trecho:
Apenas para esclarecimento, conta-se que antes de ser construído pelo italiano Salvador Ciuffo o Grande Hotel (depois Hotel Braga), cuja construção foi concluída em 1918, existiu ali uma pensão, ou um hotel simples, que se chamava Hotel do Carmo. Esse pequeno hotel foi construído para receber os imigrantes que chegavam à Miracema, vindos de várias partes da Europa, na maioria italianos, para trabalharem nas lavouras de café. Essa é uma história oral, mas que tem indícios no livro da escritora paduana Rita Piccinini, confome fotografia que reproduzimos abaixo:


Hoje, me deparei com um trecho do livro "Logradouros de Miracema", vol. 1, capítulo referente à Praça Dona Ermelinda, "Suplementos", onde consta numa parte da legislação também a citação do Hotel do Carmo. Quando soube dessa história, do Hotel do Carmo, contada por minha avó, li a legislação e o livro da Rita Piccinini e por isso compartilho com todos os leitores do blogue:

Câmara Municipal de Santo Antônio de Pádua - Sessão de 07/01/1896, extraído do livro "Sertões dos Puris", de Heitor Fortes de Bustamante, de 1964.
"Nesse dia, presentes em sessão os vereadores João Luís de Araújo, Paulino de Araújo Padilha, José Bernardo Cândido de Figueiredo, Joaquim José de Macedo, José Perlingeiro, João Claudino Pinto, Martiniano de Hollanda Cavalcante, Lídio José Pereira, João da Silva Viegas e Teófilo Gomes do Amaral, elegeram para êste ano, presidente e vice-presidente, o 1º e o 2º dos presentes.
Nesta sessão ainda, por proposta do vereador Martiniano de Hollanda Cavalcante, as ruas e praças de Miracema passaram a ter a seguinte denominação: onde era Rua da Estação até o Hotel do Carmo, chamar-se-á, rua Firmo Pereira. Rua Direita até a praça - Rua Floriano Peixoto. A praça do Xafariz - Praça Dª Ermelinda. Rua do Padre Domingos - Rua Dr. Monteiro. Rua dos Padeiros - Rua dos Bastos. Rua Chico Barbeiro - Rua Josino de Barros. Rua das Flores - Rua José Carlos. Rua da Laje - Rua dos Padilhas. Rua do Aurélio - Rua dos Padeiros. Rua da Capivara - Rua dos Tostes. Rua do Café - Rua dos Gabriéis. Rua Olímpio Padilha - Rua Tenente Coronel Manoel Felisberto. Largo da Igreja - Largo da Matriz."

Sabemos que o Hotel do Carmo era localizado no atual Hotel Braga, que foi construído com o nome de Grande Hotel. Imagina-se que a Rua da Estação é onde hoje está a Rua Salvador Ciuffo. E mesmo assim não conseguimos visualizar essa tal rua Firmo Pereira.


É importante para mim desvencilhar essas informações. O Hotel do Carmo pertencia a um irmão de minha trisavó paterna, o italiano Carmo de Martino, que foi um dos primeiros italianos a chegar em Miracema, por volta da década de 60 do século XIX. Junto com ele veio também um irmão, o padre Francisco de Martino, que segundo registros eclesiásticos nos arquivos da igreja matriz de Miracema, em 1864 estava na como pároco na então Santo Antônio dos Brotos. Meu bisavô paterno, Francisco Antonio Bruno de Martino, sobrinho dos anteriores, veio ao Brasil por volta do ano de 1878/1880, onde teria vindo para ficar sob a responsabilidade do tio materno, o padre, e também teria trabalhado no Hotel do Carmo, como camareiro. Conta-se que nessa época, alguma desavença tenha levado o então subdelegado de polícia Francisco Procópio de Alvim e Silva a colocá-lo no tronco, conforme processo existente no Arquivo Público do Estado do RJ. Nesse processo - "Desacato à Autoridade" - há um embate entre o Dr. Ferreira da Luz e  Francisco Procópio, em que o primeiro narra ao presidente da província os problemas ocasionados junto ao Reino da Itália, devido à conduta violenta de Procópio. Claramente, aparece o nome do italiano que foi posto no tronco, que depois ficou conhecido por Chico Carroceiro, depois Chico Barbeiro, etc. Carroceiro, porque após receber a indenização por ter ido ao tronco, comprou carroças e se tornou carroceiro, trazendo os produtos da lavoura para a estação ferroviária ou para o comércio na cidade; e barbeiro, porque após ser carroceiro abriu uma barbearia, na atual rua Cel. Josino de Barros, anteriormente Rua Chico Barbeiro.
Sobre o nome "Grande Hotel", há numa ata da Câmara de Vereadores de Sto Antônio de Pádua a referência ao hotel, em que Salvador Ciuffo, seu proprietário, pede isenção de impostos. Cheguei a ler a ata, que consta da obra "Logradouros de Miracema", no capítulo referente à Rua Mattoso Maia, cuja pesquisa foi realizada por mim, nos livros do arquivo da Câmara de Pádua.

Grande Hotel, década de 1920, depois passou a Hotel Braga. Divulgado no Facebook por Tadeu Miracema.

Hoje, concordo com o leitor vagalume José Anderson, que a Rua Firmo de Araújo, da Rua da Estação até o Hotel do Carmo, trata-se do que é hoje a rodoviária até o Hotel Braga. 

Atualização em 18-maio-2022, a partir da última fotografia.

6 comentários:

kvari disse...

Angeline, não seria o trecho da Rua Direita da rodoviária (estação) até o Hotel Braga (do Carmo) passando pelo Banco do Brasil?
E a rua Direita seria somente do hotel até a Praça.

AngelMira disse...

Anderson,

Pelo traçado de hoje, é o que se pode imaginar. Mas, na época... A Rua da Estação, pelo que sei, era a Rua Salvador Ciuffo de hoje. Sim a Rua Direita é o que vc descreve.

kvari disse...

Bom seria se tivesse um mapa da época né!?
Mas a Salvador Ciuffo não é meio longe da "estação" para ser a Rua da Estação?
Esta não seria mesmo o trecho onde hoje é o prédio da Caps - Praça Getúlio Vargas?

AngelMira disse...

Anderson,
Não posso lhe informar sobre isso no momento, há documentos da Fábrica de Tecidos São Martino, que é de 1906, informando outro nome de rua, que não Estação ou Firmo Pereira, em seu timbre.

Blog "O Vagalume" disse...

Recebemos por e-mail:

Aminga Angeline
Parabéns por mais uma importante contribuição ao resgate da Memória de Miracema que assim vai se constituindo a quem se interessar possa.

Afinal as eleições não apresentaram grandes surpresas. Nem mesmo o fenômeno Tiririca não é novidade. Esta ao nosso ver ficou somente quanto à votação alcançada pela Marina, mas que em nada mudou o quadro geral.

O brasileiro continuou votando com o coração e não com a razão. Para isto contribui a Constituição que temos consagrado um sistema partidário, em que os partidos se diferenciam não por suas fundamentais propostas ao Brasil mas sim pelos coroneis que os dominam e deles fazem o que bem enteder.

Marina tem uma ótima oportunida de aprofundar a sua pregação. Ao nosso ver deve negociar seu apoio com o candidato que ache possa lhe assegurar o máximo de sua proposta de governo e não de postos no governo. Caso contrário não deve apoiar nenhum, deixando livres os seus eleitores na escolha dos candidatos.


Abraços, saúde, Deus, paz e amor.
Luiz Carlos/MPmemória.

Unknown disse...

Kvari, estou começando a achar que você tem razão.
Hoje não tão envolvida mais com as pesquisas dessa natureza e lendo a matéria, mesmo que a RUa da Estação fosse a atual Salvador Ciuffo, poderia estar começando ali perto da estação, a partir da tão falada "RUa da Estação", até o hotel, ai sim, seria a Rua Firmo Pereira.

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