Ponte sobre o Ribeirão Santo Antônio, N. 75 (tombado) – Aero Clube de Miracema (1926). Acervo do Centro Cultural Melchíades Cardoso. |
A Rua Barroso de Carvalho inicia entre a Loja Leader e a lateral do Edifício Deodato Linhares, sendo transversal à Rua Marechal Floriano. Termina no local onde é o término da Rua Mattoso Maia e o início da Avenida Deputado Luiz Fernando Linhares.
Esta Rua é cortada pelo Ribeirão Santo Antônio, quando atravessamos a ponte, divisamos logo o imponente prédio do Aero Clube. Nele o Rotary Club faz suas reuniões, jantares, confraternizações. Nele também eram realizados suntuosos bailes ao som de orquestras famosas: Formaturas, Debutantes, Rainha dos Estudantes, Primavera, Carnaval e outros.
Encontram-se inseridos na Rua Barroso de Carvalho: Consultórios médicos, Salão de beleza, Bar, Loja de pintura à porcelana com um significativo mostruário de ricas peçaspintadas à mão por Wânnya Aparecida Alvarenga Tostes Sales, que é a proprietária desse luxuoso comércio.
Casas residenciais completam a história desta rua, cujo nome é uma homenagem ao poeta maior: Barroso de Carvalho.
Ricarda Maria Leal Alvim (Tia Ricarda) (1936)
Legislação:
Lei: nada encontramos quanto à aprovação das denominações deste logradouro.
Lei n. 277, de 18/03/1959:
Fica declarado de utilidade pública municipal o Aero Clube de Miracema, entidade com sede à Rua Barroso de Carvalho, nesta cidade.
Deliberação n. 9, de 18/08/1967:
Passam a constituir patrimônio Histórico do Município, os túmulos onde se acham os restos mortais dos veneráveis miracemenses Gilberto Barroso de Carvalho e Dona Ermelinda Rodrigues Pereira localizados no cemitério local.
Decreto n. 349, de 02/01/1995: tombamento:
Art. 1º) números 93 (total, inclusive varanda lateral) e 145 (total, inclusive varanda lateral).
Art. 2º.) Rotary Club de Miracema (fachada, lateral que dá para o Ribeirão Santo Antonio – antigos Miracema Clube e Aero Clube de Miracema).
Edital do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural:
Tomba o traçado, o calçamento em paralelepípedo e os imóveis desta rua: no. 24, no. 28, no. 32, no. 44, no. 79, no. 93 (no. 87), no. 98, no. 117, no. 120, no. 121, no. 125, no. 145, no. 219, bem como o terreno (vazio) onde esteve edificado o no. 84; o terreno de esquina, em frente ao no. 44; e o terreno de esquina da Rua Matoso Maia, desmembrado do no. 120.
QUEM FOI GILBERTO BARROSO DE CARVALHO?
Gilberto Barroso de Carvalho (Gilto) (1892/1926), viveu quase sempre em Miracema, onde nasceu em 23 de abril de 1892, tendo sido seus pais os professores Antônio Firmino de Carvalho e Rosa Barroso de Carvalho.
Foi casado com Otília Lisboa Carvalho, destacada filha de Pádua. Teve dois filhos: Lenine e Antônio. Faleceu em 24 de fevereiro de 1926.
De sua curta existência, apenas três ou quatro anos foram passados fora de sua terra natal, isso quando residiu no sul de Minas e no sul do Espírito Santo, desempenhando funções oficiais como as de professor e Diretor Técnico do Ginásio de Alegre (ES) e de elevado funcionário público, em Passos (MG).
Barroso de Carvalho foi um eterno e romântico boêmio, que improvisava adoráveis versos satíricos e jocosos os quais, por muito tempo, permaneceram na memória dos seus contemporâneos.
De índole versátil como poeta, como orador, como jornalista e, especialmente, como pensador despretensioso, deixou Barroso de Carvalho renome famoso de versejador perfeito, de tribuno impressionante, de polemista destemido e de filósofo eclético.
Era um estilista por natureza, daí o primor corrente de toda a sua produção literária, quer no verso, quer na tribuna, quer nas colunas da imprensa; como orador em todos os acontecimentos cívicos, sociais e políticos nunca foi, em seu tempo, igualado. Era um virtuose da palavra que arrebatava os auditórios. Por falar quase sempre de improviso, seus discursos infelizmente se perderam no tempo e no espaço.
Ficou famosa, no entanto, a frase da oração, por ele proferida em saudação ao então Governador Feliciano Sodré, no auge da campanha separatista: “Miracema! Águia cativa que sofre o martírio dos que vivem sentindo asas nos ombros e grilhões nos pés”.
A obra literária de Gilberto é algo que deve ser divulgada com justa ufania pelos miracemenses, não somente pelo encantamento lógico respectivo, como pela conceituação comunicante de sua amargurada filosofia em que flutua sempre um pensamento ilustre invocando o céu, a terra e o destino.
Escreveu em jornais dos Estados do Rio, Minas e Espírito Santo, principalmente nos semanários de sua cidade “O Município” e “Nova Fase”.
Publicou em 1925 o seu admirável livro de versos “Pontas de Fogo”, todo ele escrito em Miracema, e que foi o repositório de sonhos e realidades, aprimorados no crisol ideal de seu engenho.
Sobre sua obra, na ocasião, escreveu o político e literato Nogueira da Gama: “Dentre os que modernamente perpetram o chamado modernismo, nenhum excedeu ainda e, muito poucos, poderão ombrear-se com o bardo miracemense”.
Na mesma época, o tradicional jornal “O Friburguense”, em especializada seção de crítica literária, a seu respeito, publicou os seguintes conceitos: “A originalidade de Gilberto Barroso de Carvalho, não vai encontrar no Parnaso nacional senão louvores, muitos louvores. O seu livro é encantador... As suas rimas e seus alexandrinos são incomparáveis...”.
A intelectualidade brasileira, pelas vozes de Ozório Duque Estrada, Agripino Grieco, Joio Ribeiro, Leôncio Correia e Povina Cavalcanti, não lhe regateou elogios.
Por ocasião de seu falecimento, com apenas 34 anos, Francisco Perlingeiro escreveu no jornal “O Agrário”, então existente: “O Município perdeu com Gilberto uma das mais belas esperanças de nossa mocidade”, e o Dr. Vicente Moliterno, acatado escritor gaúcho, então residente na cidade, assim se manifestou: “Gilberto era para esse povo como um sol que apagasse de repente e do qual todos sentiam os reflexos de seu talento e dos seus versos, que corriam, transpondo as fronteiras de Miracema...”.
Grande batalhador da causa separatista, Gilberto Barroso de Carvalho não assistiu à realização de seu sonho, falecendo antes que Miracema fosse libertada.
Melchíades Cardoso (1891/1944), adaptado por Marcus Faver.
A imagem à direita é do busto do poeta Barroso de Carvalho localizado no centro da Praça Dona Ermelinda.
DEPOIMENTO DE ALTIVO LINHARES:
A cultura da população era ainda de natureza fraca, isto porque, os médicos que aqui aportavam viviam em dificuldades, sofrendo concorrências com os curandeiros; para os advogados não havia condições de permanecerem através de suas atividades; quanto aos engenheiros era tanto mais difícil, de maneira que, a nossa política não se baseava em orientação de nível superior e muito menos de idealismo; os poucos que apareciam querendo fazer política misturavam negócios com essa atividade mais elevada. Quando surgiu um elemento mais capaz como foi o caso do professor Firmino de Carvalho, pai do poeta Gilberto de Carvalho, conseguia ter-se um jornal no povoado do melhor nível e mais existência.Este professor Firmino de Carvalho chegou a manter polêmica com os Rezendes, de Cataguases, que batiam por uma extensão do Estado de Minas Gerais até o ribeirão Santo Antônio. Depois de Firmino, os irmãos Gilberto e Gontran, filhos de Firmino, também sustentaram o jornal por grande tempo nos anos 1915 a 1918.A campanha desenvolvida pelo jornalista Assis Chateubriand – Asas para o Brasil – com o apoio da Aeronáutica Civil levou-me a colaborar com a iniciativa do Aero-Club de Miracema e na construção de campo de pouso; esta tarefa tornou-se bem difícil porque a terraplanagem da área tinha que ser feita a braço, que na ocasião se tornava escasso no município.Antônio Firmino fundador da Loja AMECARIM, redator de "O Miracemense" .
Altivo Mendes Linhares (1896/1986), em "Altivo Linhares – Memória de um líder da velha província", de Maurício Duarte Monteiro, transcrições autobiográficas.
Fonte: Logradouros de Miracema,vol. II. Coordenacão: Luiz Carlos Martins Pinheiro e Ricarda Maria Leal Alvim, ambos in memorian.
Hermenoteca da Biblioteca Nacional. Jornal O Fluminense, 28-fev-1939. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/100439_07/11427 .Acesso em: 18-fev-2023. Pesquisa do Blog O Vagalume. |
Pela notícia o poeta Gilberto Barroso de Carvalho faleceu em 24-fevereiro-1926. Quando transcorreu 13 anos de sua morte, o povo miracemense prestou-lhe significativas homenagens. Numa estação de rádio localizada na principal rua da cidade um programa comemorativo, onde figuras relevantes participaram.
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