E S T A Ç Õ E S
Carmen Cardin*
Era setembro. Eu me lembro, perfeitamente!
As maritacas cantavam a manhã, alegremente,
despertavam toda a humanidade, indiferente,
ao deslumbrante colorido, alarido do seu canto.
Do coador de pano, nascia o café. Broa de milho
assando no fogão à lenha. Lá longe o estribilho
da Maria Fumaça estrelando seu balé no trilho
a ressuscitar meus avós perdidos. Chorava tanto!
Era setembro. De manhã, caminhava no quintal.
Imaginava fundir-me com a beleza sobrenatural
de uma exuberância sagrada, jamais vista igual:
os ipês haviam esculpido um arco-iris no vergel.
Eu saboreava as sinfonias, eu degustava romances
- nunca consegui compreender, do Destino, os lances! -
Estendia roupa no varal. Deus Sol pincelava nuances
na clarabóia dos sonhos, que me descortinava o Céu!
Colhi tantas escarolas na horta, semeei o jardim.
Sentia o suor a escorrer na face, adubando, assim,
saudade de um amor que o inverno levou de mim,
paixão relampejante e fugaz: tempestade de verão!
A lareira a crepitar, sustentando a lembrança acesa
do que fomos um para o outro. O caldo verde à mesa,
sua cadeira vazia. Pudim de leite, ingrata sobremesa
(prometi não fazer, não ouvir mais Gipsy Kings, jamais!).
Assim, como se vê, do veneno do abandono ninguem morre.
É como se extrair látex da seringueira. Seco, o outono escorre.
Plantei um "comigo-ninguem-pode" na soleira. "I am so sorry"
porque te esqueci. Nada me falta. É primavera, uma vez mais"
*Poeta, professora, radialista e artista plástica, nascida em Miracema - RJ e residente do Rio de Janeiro, Carmen desenvolve intensa atividade poética desde seus 9 anos de idade. Participa do Grupo Poesia Simplesmente, que promove o "Terça ComVerso" todas as 3as. feiras no Teatro Gláucio Gil, em Copacabana.
Autora de centenas de poemas, lançou seu livro "Atalho para o Banquete" na XV Bienal do Livro. Está programando, para o próximo ano, "Frutos do Anoitecer".
No domingo passado, Carmen estava na Argentina, onde divulgou seu trabalho, em espaços acadêmicos e uma entrevista em radio.
Enviado por Victor José Ferreira, Presidente do Movimento de Preservação Ferroviária
Enviado por Victor José Ferreira, Presidente do Movimento de Preservação Ferroviária
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