Jornal "Correio de Palma", diretor responsável Dr. Wilson Amaral, anno 1, n. 14, de 08-jul-1935. Postado por Beto Metri no Facebook, em 21-out-2014. |
Hoje fiz um passeio pelo grupo de Palma, no Facebook e me deparei com esse jornal, postado pelo Beto Metri, que é um verdadeiro amante da história de Palma-MG. Num instante o título me remeteu à "Intentona Comunista", mas com a publicação da transcrição da matéria completa do jornal, pudemos perceber que se tratava das histórias locais palmenses. Veja só o que disse Metri:
PALMA - DÉCADA DE 1930
Circulava, regularmente, no município, o jornal CORREIO DE PALMA, sob a direção de Dr. Wilson Alvim do Amaral, segundo o próprio "periódico" um ÓRGÃO INDEPENDENTE DEDICADO AOS INTERESSES DO MUNICÍPIO.
O número 14 do Correio de Palma, que recebi como presente hoje, traz a seguinte matéria de primeira página.
FRACASSOU A INTENTONA
que eu digitei, seguindo fielmente o jornal, e compartilho com você. Vale a pena ler, pela história, pelo registro e pela forma como Dr. Wilson escrevia.
"FRACASSOU A INTENTONA
Um atentado inominável contra o diretor desta folha, o promotor de justiça e o chefe do P.R.M. local
Todo o povo do município de Palma, e quiçá de Minas Geraes, já deve estar a esta hora bem scientificado do papel ridículo e vergonhoso que no dia 3 do corrente mêz os pepistas de nossa terra representaram no coração desta cidade, que foi theatro de factos inconfessáveis.
Em verdadeiro desespero de causa, sentindo que cada hora que passa leva uma pedra do fraco edifício do seu pretenso prestígio político, esses homens que se arrogam no direito de serem os “mandachuvas” de Palma, pretenderem levar o seu desespero e sua fraqueza moral ao absurdo de planejar um atentado contra uma autoridade legalmente constituída, contra o diretor desta folha e contra o chefe do P.R.M. cel. Nicanor B. do Amaral.
Pretenderam apenas, é verdade, porque o plano diabólico que planejaram foi descoberto em tempo e prevenidos os que iam ser victimas das fúrias “antoninas, adhemianas e columbianas” et caterva, o alarme fez com que debandassem as hostes pepistas e seus raros adeptos se viram na dolorosa contingência de transformarem o seu acto de violência em manifestação ao prefeito.
Mas o seu sórdido plano, urdido às esconsas e nos conchavos secretos, tornou-se público e a luz da verdade veio mostrar ao povo como têm sido vis e covardes os responsáveis pela vida política e adminsitractiva do município.
Foram desmascarados publicamente e por isso tornaram-se ainda mais merecedores do desprezo e da chacota dos seus semelhantes. A farsa que representaram foi a última pá de cal empregada no túmulo do seu diminuto prestígio.
Pelas notícias e comentários abaixo os nossos leitores ficarão a par de todos os acontecimentos que quase enluctaram a nossa cidade.
OS CONVITES
Logo que o promotor de justiça voltara a esta cidade, despois de esmagar com um mandado de segurança os nossos políticos situacionistas, estes, desrespeitados e desmoralizados, ficaram agitadíssimos e deram então início aos TETE-A-TETE, aos conchavos secretos, tendo nós a impressão de que se tramava qualquer coisa às esconsas.
No dia 30 do mêz passado realizou-se em casa de um dos chefes uma reunião e, talvez, ahi se tenha planejado o condenável plano do dia 3. Sob o disfarce de uma manifestação ao prefeito,, mas que não passaria de um ajuntamento ilícito para desacatar a promotoria pública e tirarem uma desforra na pessoa do nosso diretor contra as nossas justas verrinas. Elles se espalharam ahi pelo município afim de fazer os alliciamentos para a reunião a se realizar no dia 3, enganando assim o povo e ludibriando a boa fé da gente ordeira de nossa terra. Com o rótulo de manifestação ao prefeito, atentados sórdidos se preparavam na surdina.
O Prefeito, Delegado de polícia e o conhecido “ estrella” gastaram gasolina pelas estradas do município angariando sob o mais absoluto sigilo, elementos que participassem da trama sinistra.
OS AVISOS
Na noite do dia 2, porém, a promotoria de justiça foi por carta de pessoa amiga, avisada do que se tramava contra si e o nosso director, aviso esse confirmado por uma telefonema de Muriahé que expunha todo o plano dos descontentes. Os visados não se alarmaram, e apenas se preveniram contra qualquer surpresa. A população da cidade ainda ignorava o facto e tranquillamente dormiu a noite de 2. Pela manhã do dia 3, vieram novos avisos de pessoas amigas, não só dirigidos ao promotor, como ao prestimoso chefe do P.R.M. local, que era também um dos visados pela truculência. Às autoridades superiores do Estado foram então dirigidos telegramas em que se expunha a intenção dos situacionistas e a maneira pela qual, em caso de aggressão e affronta se portariam as pessoas visadas, tendo a Promotoria de Justiça e o cel. Nicanor dirigido avisos ao Governo, não para pedir garantias, mas para comunical-o que iria reagir a aggressão innominável que estava sendo tramada.
A CHEGADA DOS “MANIFESTANTES”
Às 10 horas do dia 3 o expresso despejou na estação desta cidade umas cincoenta pessoas algumas de representação. Foi então que o povo começou a comprehender que algo de anormal se passava e ficou sobressaltado ao verificar que, de momento a momento, automóveis e caminhões, estes cheios de pessoas suspeitas, e armadas, despejavam gente em profusão sobre a cidade. Começou então a agglomeração de pessoas em frente ao Hotel Rodrigues, onde se achava hospedado o promotor, afim de aguardarem, como diziam, o início do programma architectado. A cidade, já sabesdora do que se tramava, apprehensiva, voltou suas vistas para aquella reunião suspeita.
O FRACASSO DA INTENTONA
Mas nada de apparecer o prefeito e nem tão pouco o orador que fugira de madrugada no Automóvel da Leopoldina. Era justa a demora do prefeito porque este ignorava a manifestação que encobria attitudes inqualificáveis. A expectativa era bem grande, mas os cabeças do movimento não appareciam: é que elles percebendo que o seu plano estava descoberto e que não poderiam mais agir de suspresa como premeditavam, resolveram então nomear as suas comissões para entendimentos, tendo uma destas sido repelida energicamente pelo promotor. Finalmente verificando que estavam desmascarados e que as suas desculpas não seriam acceitas, os descontentes convidaram os “manifestantes” a subirem a ladeira para homenagearem o Prefeito. Com o título de manifestação, planejavam uma chacina, mas fracassando esta, se lembraram então daquella. O tiro sahira pela culatra.
O DESAPONTO
O desaponto que reinou no reduzido grupo dos pepistas foi formidável. Houve pessoas, aqui chegadas automóvel, que não sabiam onde metter o rosto tal a vergonha de que se achavam possuídas por não terem encontrado a manifestação para que foram convidadas. Outras scientes do engano de que foram victimas , criticavam severamente aquelles que os convidaram. Com este desaponto geral, começou a debandada, e o trem das cinco horas levou os últimos “manifestantes” ludibriados.
A ATTITUDE DOS QUE SERIAM VICTIMAS
Os avisados pela agressão se portaram serenamente durante todo o transcorrer do dia, sento sua attitude a de sobreaviso contra qualquer surpresa. Aguardavam elles o desenrolar dos acontecimentos para, si preciso fosse, fazerem a sua defesa e repellirem à altura qualquer affronta ou aggressão que lhes fosse dirigida.
O DELEGADO DE POL[CIA
Merece registro especial o facto de ter o delegado de polícia, a princípio visto entre os “manifestantes” ter desaparecido da cidade na hora em que começou a debandada. Com certeza fora a procura do companheiro, aquelle das “Duas sombras’ aquelle que, sendo a cabeça intellectual do golpe, escapulira pela madrugada no automóvel da Leopoldina. Que garantia pode ter uma população que tem como delegado um indivíduo que anda de braços dados com políticos e pactua de suas bandalheiras?
Ora, nós sabemos perfeitamente que, para quaisquer homenagens que se pretende prestar a alguma personalidade, os convites ao povo são feitos com antecedência por meio de boletins ou pela imprensa e não verbalmente, como os pepistas fizeram, dirigindo-se assim mesmo a limitado número de pessoas desnte as milhares existentes no município. Si pretendessem verdadeiramente fazer alguma manifestação a alguém , os promotores da mesma teriam o cuidado de dar-lhe a maior publicidade possível, com música, fogos, etc o que porém não se verificou.
Com o rótulo de uma homenagem a quem nada tem feito para merecel-a, elles tramaram um inqualificável attentado , procurando com aquelle disfarce attrahir os seus raros adeptos até esta cidade.
Desmascarados a tempo o seu desaponto foi grande e o seu medo ainda maior porque constataram que aquelles que agem dentro da lei e cumprem com seu dever, estão sempre pronptos a defender os seus direitos em qualquer terreno.
Que manifestação seria aquella , sem convite, sem publicidade, sem música, sem fogos, sem orador?
O povo desta cidade, onde se pretendia fazer a alludida manifestação, tudo ignorava até as 10 horas do dia 3.
Que manifestação seria aquella em que os manifestantes foram tirados das enchadas, arrancados dos seus serviços para virem compartilhar de um commetimento , cujo verdadeiro fim ignoravam?
Será possível que estavam com receio de que ninguém atendesse a um convite para homenagear o seu prefeito? Que prestígio é esse então?
Aquella reunião do dia 3, talvez a última promovida pelos pepistas de Palma, apresentava o caracter de uma verdadeira sedição , em que procuraram envolver pessoas completamente alheias às competições políticas e sociaes do município. O povo, já demasiadamente ludibriado, acabou de se convencer de que os políticos pepistas de nosso município estão cansados de dar murros em pontas de faca, e que as palhaçadas de que são protagonistas vêm ainda mais atiral-os ao descrédito público.
Precisam se convencer de sua ignorância, do seu nullo valor político e de sua falta de senso em dando valor a esses forasteiros chamados Columbanos, Adhemas, etc. cujo interesse não é outro senão o de jogar os seus companheiros e ficarem por fora se banhando em mar de rosas.
Si quiserem continuar a contar com a diminuta sympatia com que ainda os cercam os seus parcos adeptos, devem se desvencilhar desses maus elementos à guisa do que fizeram os perremistas com os mesmos.
Quanto às suas attitudes hodiernas, podem ficar scientes de que ellas só têm servido para desmoralizal-os perante a opinião pública e encaminhal-os dia a dia para o desprezo e o ódio dos seus conterrâneos.
O que lhes adeantou a intentona do dia 3 si o promotor de justiça ahi continua prestigiado para cumprir o seu dever, si o director desta folha esta sempre alerta para denunciar as bandalheiras, e si o P.R.M. local continuará a se encher de prestígio?
Tão grande foi o fracasso do plano do dia 3, como moralmente fracassados estão todos os pepistas de Palma.
Desistam, pois, snrs. Pepistas, da vida pública e recolham-se as suas insignificâncias porque, perante o povo de Palma, se acham inteiramente desmoralizados e reduzidos à expressão mais simples."
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