O coordenador da obra "Logradouros de Miracema" (LM), Luiz Carlos Martins Pinheiro, que é engenheiro ferroviário enviou um belo relato sobre o problema da seca, das chuvas, da energia e sua experiência com o tema no Brasil. Abaixo transcrevemos:
"ARARAS
Efetivamente um dos problemas básicos da seca no nordeste e parte de MG está não propriamente na falta de chuvas, mas na sua ocorrência ao longo do tempo.
Em muitas bacias hidrográficas, nas chuvas ocorrem inundações e passadas estas as calhas dos cursos d´água secam, deixando ou não alguns barreiros.
Assim a preservação d´água, desde o Império, se tornou no principal objetivo do combate às secas.
No Governo JK, o DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, foi confiado ao jovem e dinâmico engenheiro cearense (PSD - Partido Socil Democrático), José Cândido Parente Pessoal, que partiu de cara ao grande açude Boqueirão de Cabaceiras, em Campina Grande, PA, que além de tudo se tornou num grande produtor de peixes.
Note-se que o DNOCS fazia todas as suas obras com pessoal, equipamento e materiais próprios, pouco ou nada confiando à iniciativa privada em matéria de obras. Investia em pesquisas sobre peixes, sobre agricultura irrigada e sobre pluviometria.Teve uma plêiade de notáveis de nossa Engenharia, Psicultura e Agronomia.
O sucesso obtido levou ao desarquivamente, desde antes de 1920, do propósito da construção do maior açude, até então, sobre o Rio Acaraú, que desemboca no Oceano Atlântico. Em 1958, grande seca, quando formávamo-nos na EPUC - Escola Politécnica da Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro e começamos a estagiar no DNOCS, sua barragem foi concluída, criando um mar de água doce em pleno sertão seco.
Hoje (07/02) tivemos o grande prazer de vê-lo numa reportagem da TV. Majestoso, além de coibir as enchentes abaixo, tornou o rio perente, em cerca de 170 km, permitindo a criação de agricultura irrigada. Além disto é um importante criador de peixes. Abastece d´água a 18 municípios. Gerou um município com 17 000 habitantes etc.
Realmente fantástico, mas não tanto quando deveria ser. Em geral os projetos destas obras públicas, limitavam-se ao barramento dos cursos d´agua e à estimativa de seus possíveis benefícios, mas não se envolveram com a ecologia em sua bacia hidrográfica. Teve uma plêiade de notáveis de nossa Engenharia, Psicultura e Agronomia.
Assim o que se verifica é que as nascente e mesmo o curso do Acaraú até o açude, continuaram sendo degradados, não havendo mata ciliar e nem proteção alguma. A poluição, inclusive por esgotos sanitários, tem sido crescente. A erosão está reduzindo a sua capacidade armazenamento d´água. A psicultura não teria atingido o nível industrial possível etc.
Outro grande fruto, foi o estímulo que deu à constução de um projeto muito mais ambicioso e desejado até então, a construção do Açude Orós, a joia da coroa, e a seguir do Banabuiu, que não poude ser concluido por JK, devido a necessecidade de reconstrução da barragem do Óros, que fora destruida por grande cheia.
No Óros já se teve cuidado especial com a produção de peixes, extinguindo-se a piranha de sua bacia hidrográfica e prevendo seu povoamento por peixes apropriados ao mesmo. Uma pequena hidroelétrica, utilizando a água para garatir a perinidade do rio abaixo de sua monumental barragem em arco e em solo. Previu-se também obras de irrigação.
E se diz que nada se fez ao combate as secas. Evidentemente ele não se limitou e nem podia só à constução de açudes. Mutísssimo há que ser feito, mas basta comparar como se morria nas nas secas e o quanto se morre hoje, para se sentir que algo importante foi realizado."
Luiz Carlos/MPmemória
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