O que é um orçamento? Um técnico na área vai definir como sendo um instrumento de planejamento, de viabilizar as ações desejadas dentro dos limites da arrecadação. Para alguém que não é especialista no assunto, é comum relacionar o orçamento a sua vida diária. Não é difícil ouvir alguém dizer: neste mês estourei meu orçamento. Quando diz isso, está se dizendo que as suas despesas superaram sua arrecadação.
É exatamente dentro desta ótica que se verifica que não existe segredo na questão orçamentária no setor público, seja na esfera federal, estadual ou municipal. O Poder Público tem duas missões básicas: buscar uma maior arrecadação e usar criteriosamente os recursos arrecadados.
Nos municípios de pequeno porte há pouca coisa a ser feita em termos de aumento de arrecadação, já que mais de 90% do orçamento, normalmente, se constituem em repasses governamentais, federal e estadual e apenas cerca de 10% ou menos, de arrecadação própria com as receitas de IPTU, ISS e outras taxas e emolumentos municipais.
Sendo assim, a questão básica é definir as prioridades e o uso dos destes recursos, sempre menores que as demandas. Por lei, cabe ao legislativo e ao executivo esta tarefa. Porém, desde a promulgação no ano 2000 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a população passou a ter o direito de acompanhar, tanto a elaboração do orçamento anual, através da Lei Orçamentária Anual (LOA) quanto do PPA (Plano Plurianual) feito de quatro em quatro anos.
A LOA e o PPA antes de serem debatidos na Câmara devem ser submetidos, através de Audiências Públicas, ao debate da população. Além da elaboração da lei, a população tem o direito de conhecer e debater a execução orçamentária, ou num português mais simples, os gastos autorizados pelos representantes da população: prefeito e vereadores.
É importante que a população exerça sua cidadania e se manifeste mostrando seu interesse em participar deste debate. Se a Câmara não abrir este espaço é só questionar o Ministério Público que o mesmo determinará a abertura do processo de audiência pública, que deverá ser antecedida da entrega da proposta orçamentária, encaminhada pelo executivo à Câmara Municipal, para todo o interessado em participar da audiência.
De posse destas informações, a população, diretamente, ou através das entidades da sociedade civil, deve manifestar suas propostas e suas prioridades.
Foi deste desejo de participar que se originou o chamado Orçamento Participativo (OP). Mais do que uma bandeira ele hoje é um instrumento de participação da sociedade nos destinos da sua cidade. O município é a instância onde este debate é o mais eficiente, pois é nele onde acontecem todas as ações governamentais, inclusive das outras duas esferas de governo: estadual e federal.
Hoje, centenas de municípios brasileiros já implantaram o Orçamento Participativo (OP) com sucesso. Sua proposta é mais do que a participação no debate do orçamento com apresentação de propostas. Sua intenção é a de que o cidadão possa efetivamente decidir, mesmo que seja em partes, do orçamento, especialmente, naquilo que os técnicos chamam de investimentos, ou seja, excluídos a parte de pessoal e de custeio da máquina, embora aí também caibam questionamentos, sobre os gastos excessivos e algumas vezes fisiológicos com poucos resultados diretos para a população.
A grande vantagem deste exercício é que ele apresenta o “caixa” para a população, o que acaba sendo o grande temor dos prefeitos. De outra forma, se o prefeito propicia este exercício, ele poderá usar o fato como trunfo.
Muitos candidatos dizem nos palanques, de forma simplificada, que o papel do prefeito(a) é o de definir prioridades, eu incluiria outra atribuição, que entendo mais como competência ou virtude, que é a capacidade de assumir riscos. É exatamente este o caso. Ao dar conhecimento à população sobre os recursos captados e os gastos, ele permitirá que o cidadão simples ajude a fiscalizar o valor das obras, o custo, por exemplo, de um quilômetro de calçamento ou asfalto e na compensação fazê-lo compreender o porquê de uma obra desejada vir depois de outra no bairro vizinho.
Esta forma de trabalhar inibe os pedidos isolados de moradores e vereadores valorizando a participação comunitária ao invés dos conchavos políticos. É verdade que em alguns casos as assembléias viram balcões de reivindicações, mas na maioria das vezes a discussão se transforma em planejamento, existindo casos em que a própria população discute as receitas e propõe pequenos reajustes em impostos para viabilizar a implantação de melhorias nos bairros e distritos da cidade.
Por todas essas razões não é difícil identificar porque alguns resistem tanto a trabalhar com a população organizada. É mais fácil atender ou prometer atenção aos apelos do que chamá-lo a participar e conhecer como funciona a administração pública municipal.
Diante deste quadro, é possível perceber que não há saída para a melhoria das condições de vida da população, sem que ela assuma o seu papel de protagonista. A chefia do executivo e os vereadores são nossos representantes eleitos, mas não devemos, por conta desta delegação, apenas acompanhá-los e referendá-lo ou descartá-los, em eleições de quatro em quatro anos. É dever cidadão participar do dia-a-dia da administração municipal, só assim, teremos o aperfeiçoamento das administrações municipais.
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Instituto Federal Fluminense (ex-Cefet Campos) e blogueiro
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