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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O ALVORECER DE MIRACEMA (1842 - 1882)

Texto de José Frederico Magalhães Siqueira

O declínio da exploração do ouro, no final do século XVIII, provocou o surgimento de massas humanas com pouquíssimas perspectivas econômicas. Por outro lado, como resultado da política colonial de impedir rotas alternativas para o contrabando do ouro, a atual zona da Mata mineira e o Noroeste fluminense foram consideradas Zonas Proibidas, tendo o seu povoamento e exploração fortemente reprimido pelo governo colonial. Nessas condições, nada mais natural do que levantar as barreiras burocráticas e permitir que ali, tão próximos, na borda da região aurífera, fossem ocupados os milhares de quilômetros de matas virgens.
Então, os mineiros desceram aos magotes! Do chão áspero e imantado do Sabaruçu, Queluz, Catas Altas, Santa Bárbara para a mata jurássica das grandes árvores, dos rios caudalosos e dos índios ( uns se deixando facilmente dominar, outros lutando ferozmente ). Como resultado, em menos de cinco décadas, onde existiam esparsas choças indígenas brotaram centenas de núcleos populacionais.
A doação de terras públicas por autoridades provinciais, apesar de abolida após a independência, era prática comum. Entretanto, a terra pertenceria a quem conseguisse, efetivamente, ocupá-la. Os Rodrigues Pereira tinham certa influência no Queluz e em Barbacena e podem ter obtido cartas de doação de terras no vale do rio Pomba. Para dar início a exploração e ocupação foi designado Antônio Rodrigues Pereira (conhecido por Antônio Mutuca ) que, ajudado por índios puris, construiu o núcleo do que seria a futura fazenda Floresta, dando condições para que D. Ermelinda e demais familiares se fixassem no vale do ribeirão Santo Antônio. Em 1842, D.Ermelinda, com auxílio do padre Bento de Gênova, constrói a capela e doa 25 alqueires para o patrimônio do santo. Esta construção é considerada o marco inicial de Miracema.
Nesse ano e nos seguintes chegam ao ribeirão de Santo Antônio os homens que vão povoar e expandir a localidade. Manuel Felisberto Pereira da Silva ( fazenda da Cachoeira), Joaquim de Araújo Padilha ( Recreio e Floresta ), Anacleto Reveziano de Siqueira Alvim (São Pedro ), Joaquim José Bastos ( Tirol ), Marcelino Dias Tostes ( Agua Limpa ), Deodato e Reginaldo Mendes Linhares ( Cachoeira Bonita ), Lucas Mendes Linhares ( Pinheiro ), Gabriel Alves Rodrigues ( São Luis), Antonio de Araújo Barbosa ( Fortaleza), Plácido Antônio de Barros ( Paraiso ), Custódio Bernardino de Barrros ( São Luis ) e Francisco Bernardino de Barros (Santa Inês ).
Por volta de 1855-58 esses homens já haviam implantado e consolidado suas fazendas, sendo o café a fonte de renda principal. As fazendas possuíam lavouras de subsistência, criações de porcos, galinhas, gado, engenhos de moer cana, moinhos de fubá. Os excedentes eram comercializados na distante São Fidélis...
Mas, além da atividade agrícola, devia-se construir o poder político, pois a população, tendo como centro a capela, crescia e novos imigrantes não paravam de chegar. Manuel Felisberto tornou-se o principal líder não só do Ribeirão de Santo Antônio como de toda a freguesia de Pádua a qual o Ribeirão pertencia. Quando da fundação do município de São Fidélis, em 05 de março de 1855, foi o vereador representante da região. Vamos encontrá-lo em 1863 como subdelegado de polícia ( na Cachoeira ficava o tronco e a roda de bacalhau...), foi ainda juiz de paz e provedor de ordens religiosas. Tenente-coronel da guarda nacional, monarquista, escravista, conservador, exerceu o mando político praticamente sem oposição até o seu falecimento em 1872.
Outro líder importante, desse período inicial de Miracema, foi Joaquim de Araújo Padilha (genro de Manuel Felisberto) organizador da companhia de transporte ferroviário que levou o primeiro trem a Miracema, transformando-a na povoação mais populosa, mais desenvolvida e mais rica da freguesia. Foi elevada a categoria de distrito de paz em 1882. Nesse momento, novos lideres exerciam o poder político: Francisco Procópio Alvim e Silva ( filho de Manuel Felisberto ), José Carlos Moreira, Ferreira da Luz , Firmo de Araújo.
Entretanto, o ardor da campanha republicana e da libertação dos escravos, quebrou a estrutura política hegemônica, colocando esses líderes em campos opostos.
Era o prenúncio das acirradíssimas batalhas políticas que logo a seguir ocorreriam !

Bibliografia:

BUSTAMANTE, Heitor. Sertões dos Puris. Secretaria de Educação e Cultura do Rio de Janeiro, Niterói. 1971.

COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Imprensa Oficial, Belo Horizonte. 1970.

LESSA, Jair. Juiz de Fora e seus pioneiros. Funalfa/Edufjf, Juiz de Fora 1985.

MONTEIRO, Maurício. Altivo Linhares: Memórias de um líder da velha província. Editora Damadá ltda, 1986.

* Esse artigo foi publicado no Página Um, ano III - número 25 - Miracema, 30 de julho de 1997.

2 comentários:

Lucia Grosner disse...

Custodio Bernardino de Barros e meu trisavo, pai da minha bisavo Maria Amelia Alvim de Barros.

AngelMira disse...

Cara Lucia Grosner,
De onde vc nos escreve?
O e-mail do blog é blogovagalume@gmail.com - caso queira manter contato.

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